Mostrar ou não os calos – seguindo São José

Olhei para aquela pequena ferida nas mãos após a manhã de trabalho, e pensei: “Vou mostrar a meu filho!”. Titubeei. Não, não devo. Como será que São José fez para despertar em Jesus, seu santo filho, o respeito e reconhecimento pelo trabalho, o amor à realidade?

Duvidei, pois meu primeiro impulso era bom: “Ele verá que os calos do trabalho não são, de todo, consequências ruins. Ele se tornará um homem bom!”. Eu, porém, estaria “avançando o sinal” naquele momento. Não era ele quem me procurava. Não tinha, ainda, “rachado” ou “rasgado” sua realidade a ponto de pedir, em pergunta: “Pai, no que consiste o trabalho?”.

Introduzir os filhos na realidade tal qual nos aparece é tarefa das mais complexas porque envolve essas “duas vias”, que nem sempre estão na mesma direção. Tão distraídos e cativos das luzes dos dispositivos, mostrar-lhes o que se passa ao redor de seus quartos ou vivendas digitais é, mesmo, grande aventura. Se forçamos um pouco mais, exigirmos atenção, beiramos à violência. Ser violento é esperar colher algo de onde não se plantou. Esperar bons modos de onde não se construiu. Exigir bom dia, quando, muitas vezes, também nós, adultos, saímos de casa sem o fazer ou, o que é pior, de modo automático, sem expressar o bem que a pequena fórmula pode ofertar. Assim, educar exige que pais e filhos estejam sob o mesmo caminho, andando na mesma direção.

Muitos pais poderiam afirmar então que, se é assim, não tem jeito! Afinal, os estímulos e as possibilidades do mundo digital, onde a maioria se encontra, é quase infinito, desproporcionalmente maior que a “pobre realidade”. Há nisso, logo se percebe, desconfiança e, mesmo, atestado de que o adulto não acredita ou não tem estima pela realidade que enfrenta. É como se disséssemos – sem o dizer expressamente – que também nós, se pudéssemos, ficaríamos por horas a fio diante de nossos aparelhos. No entanto, não é o que acontece?

“Meu Pai trabalha sempre, portanto, também eu trabalho” (Jo 5,17). O significado do trabalho, o amor à realidade, cunhados no homem Jesus Cristo, certamente passou pelo exemplo cotidiano, diário, na pequena oficina de carpintaria conduzida por José. Com o Cristianismo, adentramos um novo patamar em relação ao significado de “trabalho”. Não mais uma sina, peso, condenação, mas o colaborar com os desígnios de Deus. São José, na humildade e justiça que lhe são características, acolhia a realidade tal qual se apresentava. Se era preciso viajar, viajava. Se era necessário fazer um móvel, fazia. Se havia a necessidade de proteger Maria e o Menino, velava. Nada interpunha à vontade de Deus. Colaborava com o Mistério, pois a realidade era interpretada como sinal Dele.

Que também nós possamos seguir o exemplo de São José que, no silêncio, sem “querer se mostrar”, humilde diante do próprio Filho de Deus, acabou ensinando o valor e a graça do trabalho.


Dener Luiz da Silva é professor de História da Psicologia na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

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