Não ocupar o primeiro lugar, convidar os que não ocupam lugar nenhum (Lc 14,1.7-14)

Que cada um ocupa um lugar no mundo nós já sabemos. Mas a questão que envolve nossa relação é: Que lugar as pessoas nos dão para ocupar e que lugar damos aos outros para que ocupem. Nós vivemos atribuindo e esperando um lugar. Lugar de consideração, lugar social, lugar físico… Quem colocamos no primeiro posto, quem colocamos em último e, em contrapartida, que lugar nos dão são questões que nos fazem pensar que somos mais ou menos gente. O fato é que a pretensão de ter o primeiro lugar nos impede de sabermos que existe alguém maior do que nós. E, desse modo, será impossível dar espaço para conhecer Deus, porque nenhum lugar lhe serve que não seja o primeiro. Ele é Deus! É diferente! É superior! Desse modo, para quem busca sempre o primeiro lugar haverá sempre a frustração. Temos um limite. Por outro lado, no campo terreno, em relação às outras pessoas, somos todos iguais, porque somos todos humanos. Só isso! Quando nos esquecemos disso, vem a morte ou a simples ideia da morte para nos lembrar. 

O primeiro lugar é de Deus, e o nosso, não é o último nem o primeiro. É o lugar de uma pessoa, indistinta na vastidão do mistério, mas amada infinita e pessoalmente pelo Ser Supremo. Por isso, devemos abandonar o primeiro lugar, porque Ele já tem dono. Já em relação ao lugar que damos aos nossos irmãos, a questão é trazer os que estão em último para a nossa atenção. Porque, quando nos conformamos que alguns estejam desconsiderados, como se não tivessem importância nenhuma, mais do que destruir a humanidade deles, estamos destruindo a nossa própria, porque desconsideramos quem é semelhante a nós, fazendo parecer que a nossa dignidade depende não do que somos, mas do que temos ou do lugar que nos deram na sociedade. 

É verdade que lutamos para estar onde estamos, mas conseguir estar aí não dependeu só de nossa luta, também dependeu de oportunidades, dons que não merecemos, saúde, colaboração de outras pessoas etc. Por isso, dar um lugar digno a todo ser humano, mesmo que ele queira ou se conforme em estar na marginalidade, é questão de honrar o que nós mesmos somos. Talvez o único lugar que consigamos dar a alguém que já se conformou com sua indigência seja tratá-lo pelo nome, como pessoa, não como sub-raça, como gente. E, se isso não fizer diferença para ele, certamente fará toda a diferença para nós mesmos. Outra questão é a de fazer o bem a quem não pode nos recompensar. Há duas lições possíveis nesse raciocínio e prática: Primeira, quando o bem que fazemos é passível de recompensa neste mundo, há sempre a possibilidade de que esse bem seja interesseiro, e se trate de uma “caridade egoísta”, na qual não há generosidade, mas apenas conveniência. A segunda lição é que nos defrontamos com a realidade de que a recompensa de que realmente necessitamos nenhum ser humano pode nos dar, mas somente Deus. Se somos todos iguais, além de não podermos desmerecer ninguém, também não podemos supervalorizar ninguém. 

Portanto, Deus é o único que está no primeiro lugar, e precisamos nos convencer disso. E Deus também é o único que pode estar no fim de nossas ações da vida, porque é o único capaz de preencher o espaço do nosso coração desejoso de plenitude. Temos um espaço para o infinito no fundo do nosso íntimo. E esse espaço só pode ser preenchido pelo infinito. Foi isso que levou São Francisco de Assis a dizer: “O homem é o que é diante de Deus, nem mais nem menos” (São Boaventura, Legenda Maior, cap. 6). 

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