Cada vez mais utilizada em todo o mundo, a Inteligência Artificial já pode ser considerada um novo paradigma tecnológico. Conforme apontou o Papa Leão XIV em mensagem aos participantes de uma conferência sobre IA, ética e governança corporativa, em junho, tal tecnologia “abriu novos horizontes em muitos níveis, incluindo o aprimoramento da pesquisa em saúde e das descobertas científicas, mas também levanta questões preocupantes sobre suas implicações potenciais para a abertura da humanidade à verdade e à beleza, e para a nossa capacidade única de compreender e elaborar a realidade”.
Mestra em humanidade e alicerçada nos transcendentais do Bom, do Belo e do Verdadeiro, a Igreja está atenta ao avanço da IA e tem insistido que seu uso não difunda preconceitos e desinformação, nem invada a privacidade das pessoas, tampouco enfraqueça o pensamento crítico.
O Caderno Pascom em Ação, parte desta edição do O SÃO PAULO, apresenta reflexões sobre o ser humano e o agir pastoral na comunicação diante da Inteligência Artificial. Uma das entrevistadas, a jornalista e pesquisadora Irmã Joana Terezinha Puntel, paulina, explica que a IA é criada por humanos para imitar processos cognitivos e automatizar tarefas; já a inteligência humana é fruto da vida, da experiência, da empatia e da criatividade, dimensões que nenhuma máquina consegue reproduzir plenamente. “A tecnologia deve estar a serviço da vida e da comunhão, nunca substituir a sensibilidade e o discernimento humano”, ressalta.
Um chamado especial é feito a todos os comunicadores católicos: que além do domínio das ferramentas de IA, ajudem a resguardar o ambiente da comunicação como espaço de encontro, escuta e serviço à verdade. Com estes princípios assegurados, a Inteligência Artificial se torna uma excelente aliada para a comunicação e organização das tarefas dentro e fora do ambiente paroquial, tais como auxiliar na produção de textos, edição de artes, gestão de redes sociais, cronogramas, entre outros.
O comunicador católico – seja ele o trabalhador nos diferentes meios de comunicação, seja o agente da Pascom em sua paróquia – é convidado ao apostolado de instruir as demais pessoas a um olhar crítico em relação aos conteúdos gerados por IA. Também entrevistada para o Caderno Pascom em Ação, Katiane Rosa, coordenadora do subgrupo redes sociais da Pascom Brasil, lembra que toda utilização de Inteligência Artificial deve ser vista como instrumento de apoio, nunca como substituto da sensibilidade humana, da oração e do compromisso pastoral, para que assim se garanta “que a tecnologia permaneça a serviço da pessoa e não o contrário. É essencial formar comunicadores capazes de usar a IA de modo crítico, ético e pastoral”.
Um primeiro passo para tal é identificar conteúdos alterados com propósitos antiéticos por meio de ferramentas de IA. No caso de vídeos, os indícios mais comuns são: inconsistências visuais ou sonoras, com movimentos labiais que não combinam com o áudio, rostos com pequenas deformações, piscar de olhos irreal ou vozes que soam artificiais e robóticas; menção a fontes não confiáveis, como perfis de redes sociais recém-criados, vídeos soltos sem informação de autoria que chegam via WhatsApp; além de títulos alarmistas e apelativos, que buscam explorar sentimentos como raiva, medo ou indignação, e que são carregados de desinformação. Perante conteúdos assim, há outros passos fundamentais: checar se foram produzidos por fonte credível; se a informação é, de fato, verídica; e no caso de se constatar ser algo falso, denunciar o conteúdo nos recursos de denúncia que existem nas plataformas de comunicação.
Certamente cada comunicador católico bem instruído nesta nova tecnologia e toda a pessoa que busca fazer bom uso das ferramentas de IA pode colaborar cada vez mais para que a Inteligência Artificial seja instrumento de comunhão, não de afastamento; de verdade, não de manipulação; de serviço, não de dominação.






