Há muito já sabemos que crianças e adolescentes vêm utilizando os recursos tecnológicos de modo excessivo e desorientado.
O fato é que o rápido desenvolvimento tecnológico e o modo como ele foi acontecendo trouxe consigo uma ideia implícita de que se tratava de algo natural, que as novas gerações teriam acesso fácil a tais recursos, uma vez que já nasceriam em um mundo marcado pela cultura digital.
Bem, essa é uma parte da verdade – realmente nascem em um mundo marcado pela rapidez, excesso de informações instantâneas, conectividade e interatividade a distância. No entanto, a outra parte da verdade que nos escapou é que nada se aprende naturalmente, sem que alguém ensine e supervisione até que o aprendiz conquiste autonomia. Assim, não é porque as crianças e adolescentes nasceram em um mundo digital que sabem fazer bom uso dos recursos tecnológicos e especialmente das redes. Aliás, ouso dizer que a maioria dos adultos que foram aprendendo e incorporando esse mundo digital não estão bem preparados para fazer bom uso dos recursos que são oferecidos e muito menos para ensiná-los aos pequenos.
Nas últimas semanas, depois das denúncias do influenciador Felca, o assunto da adultização infantil tomou vulto e o governo se mobilizou para aprovar uma lei que, segundo dizem, se propõe a proteger as crianças nas redes.
Gostaria, no entanto, de fazer um alerta aos pais e familiares: vocês são os primeiros e principais interessados em salvaguardar a saúde física e mental das suas crianças; portanto, não esperem por leis para fazê-lo.
Quando olhamos para as denúncias e averiguamos os fatos apresentados, fica claro um descuido parental – seja por interesse financeiro da própria família (o que é demasiadamente triste), seja por desconhecimento dos reais perigos, seja por pura falta de consciência de seu papel fundamental de ensinar as crianças a viverem.
Mais do que qualquer lei que proteja as crianças e adolescentes no ambiente virtual, é sine qua non que os pais assumam essa tarefa com total segurança e autoridade. Assim como não deixamos uma faca de corte nas mãos de crianças pequenas, somente porque nasceram em um mundo em que a faca é um instrumento conhecido e necessário, não podemos deixá-las abandonadas nas redes. Tudo deve ser ensinado aos pequenos e em tudo devem ser orientados e acompanhados pelos pais, até que sejam capazes de fazer bom uso dos instrumentos.
Infelizmente, esse processo de adultização não se dá somente no ambiente virtual. Nas últimas décadas especialmente, tomados por uma crise radical na autoridade, pais vêm colocando crianças em posição de igualdade com eles – delegam escolhas a elas; deixam que se comportem de acordo com seus impulsos, acreditando que estão dando liberdade; não conseguem estabelecer uma relação de respeito dos filhos para consigo; acabam cedendo aos desejos infantis como se fossem escolhas conscientes e, com isso, tiram da criança a oportunidade de viver uma infância verdadeira, despreocupada, percebendo-se cuidada e guiada pelos adultos responsáveis.
Os pais também utilizam as telas para que as crianças pequenas se distraiam; depois, conforme crescem, já não conseguem negar o acesso, afinal todos têm, então, como dizer não e deixá-los “fora desse mundo”? E, pronto, lá estão os pequenos tomando as rédeas de algo que nem sequer têm noção dos riscos que oferece.
Por isso, queridos papais e mamães: não percam tempo! Informem-se, formem-se, compreendam os perigos que precisam ser conhecidos para que possam oferecer aos seus filhos um uso seguro e virtuoso desse instrumento que, sim, fará parte da vida deles e de todos nós. Entretanto, precisamos ser senhores dele e não escravos – essa é uma luta que precisa ser empreendida, a começar por nós, adultos responsáveis e educadores dos pequenos.