O que de misterioso acontece no minuto iniciado às 23h59 do dia 31 de dezembro? O que o torna tão especial, diante de tantos outros de igual dimensão?
Sabemos que o próximo minuto não será diferente do anterior nem a próxima hora. O dia que se inicia será semelhante a muitos antes dele, o sol não surgirá de forma especial.
Mesmo assim, diante desse particular fragmento tão ordinário do tempo, toda a humanidade faz uma pausa de forma uníssona, independentemente de religião, crença ou grupo político.
Ricos, pobres, justos e ímpios se veem juntos em um momento que parece unir como que polos opostos de um ímã do tamanho do mundo, que força nenhuma do universo poderia juntar.
O que, afinal, acontece nesse minuto que une como poucas coisas a humanidade inteira?
A resposta é direta: a esperança.
Uma esperança humana de que, a partir daquele segundo marcado na agenda antes mesmo de o ano começar, possa se iniciar um período não apenas novo, mas invariavelmente melhor.
Os que tiveram um ano difícil, esperam que aquele minuto erga uma barreira intransponível, que faça com que os problemas do ano anterior não consigam superar a entrada do novo ano. Os que agradecem por um bom ano, da mesma forma, esperam dias melhores.
Mas, após tanta festança, comidas e bebidas, acordamos no dia seguinte com a ressaca de uma esperança que parece cruelmente estéril. Bastou a primeira notícia de guerra, o primeiro boleto bancário para termos aquela sensação de desconfiança a respeito das mudanças esperadas.
Em pouco tempo, nós adultos já notamos que o relógio não trabalhará de forma diferente e não evitará o retorno ao trabalho.
Os problemas, que não têm calendário, seguem seu próprio cronograma, sem qualquer noção do tempo; seu fim é um inevitável desfecho que não podem prover sem nossa ajuda.
A verdade é que essa esperança só deixará de ser uma fantasia quando notarmos que os dias melhores que tanto desejamos dependem de um único agente: nós mesmos.
O tempo não trará dias melhores sem a nossa ação direta, os problemas não serão solucionados ou contornados sem o nosso conhecimento.
Mas essa esperança é de certa forma pagã, e não somos pagãos. Para nós não termina aí.
Nesse momento mágico, nossa esperança, aquela humana que nos liga a todos, é elevada pela graça divina e pelos dons que todos recebemos em nosso Batismo: a fé, a esperança e a caridade.
Assim, de repente, nos vemos em enorme vantagem diante de toda essa esperança comunitária, afinal a “nossa esperança” é aquela elevada pelo que recebemos, o desejo de viver a eternidade com o Altíssimo.
Mas se para o mundo a festa é movida pela “esperança”, para nós não. Nossa festa é movida pela “fé”, e isso muda tudo.
Tanto cristãos quanto pagãos terão de ser os agentes transformadores para os tais “dias melhores”, mas nós, diferentemente de todos os outros, não faremos isso sozinhos.
Pela fé, sabemos que Jesus quer estar presente em nossas vidas, celebrando nossas vitórias, auxiliando no enfrentamento de nossos problemas e estendendo sua mão amorosa em nossas futuras, e inevitáveis, quedas.
O Espírito Santo estará em nosso auxílio, nos guiando com sua sabedoria por todos os dias do ano, não só do próximo, mas de todos até a eternidade.
E nosso tão amável, mas tantas vezes esquecido, anjo da guarda, estará a postos ao nosso lado, velando por nosso bem, até mesmo enquanto dormimos.
Assim, para nós, esse “minuto especial” não é apenas um momento “mágico”, mas um marcador do tempo, que o criador do tempo colocou ali para nos indicar o caminho, assim como as placas dos quilômetros da estrada.
A cada placa que passa, sabemos que estamos mais perto do nosso destino, e a cada vez que vemos uma dessas, voltamos a nos questionar se estamos no caminho certo. Afinal na vida, como na estrada, não podemos voltar para trás.
Assim, todas as vezes que passamos por essa marca do tempo, devemos nos lembrar dessas três coisas: de que os dias melhores serão feitos apenas por nós mesmos, que Deus estará em nosso percurso indicando o caminho, e que devemos estar atentos aos sinais da estrada, para termos certeza de que estamos indo na direção correta.
Não depositemos as nossas fichas nessa esperança estéril que o mundo oferece, mas sustentemos nossa vida na fé, aquela única que é mola propulsora e segura para dias melhores, nesta e na outra vida.
Lembremos que este mundo, obscurecido pelo pecado, nos quer manter na prisão de sua esperança fofa, mas estéril e não na fé fecunda. Por isso, mais do que nunca, somos chamados a ser a luz do mundo, que ilumina e indica o caminho até Deus.