O diálogo na Amazônia a partir dos pobres, para vencer a corrupção

Na exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia (QA), publicada em 2 de fevereiro de 2020, o Papa Francisco apresenta uma síntese de suas grandes preocupações sobre a região amazônica, que é formada por nove países: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa. Nos capítulos I e II, denominados respectivamente como Sonho Social e Sonho Cultural, o Papa pede que o debate internacional sobre a Amazônia tenha uma abordagem ecológica, social e humana, considerando principalmente os clamores dos pobres. 

O comércio da madeira e a indústria de minérios atentam contra as comunidades indígenas e ribeirinhas, causando um forte movimento migratório para as periferias das cidades. Diante dessa realidade, o Papa convida a construir redes de solidariedade e desenvolvimento, aprendendo com os povos indígenas o senso da fraternidade para sanar os danos causados pela emigração e, consequentemente, a desintegração e o desenraizamento cultural. 

Na encíclica Laudato si’, há cinco anos promulgada, foi-nos apresentado que tudo está relacionado, infelizmente, inclusive a corrupção. As práticas de corrupção, outra grande preocupação do Papa, também entram nas instituições mediante a participação nas redes de corrupção política e na aceitação de doações que não tenham uma procedência legal e honesta. Podemos evitar a instalação de um ambiente de corrupção se o diálogo, como discípulos e missionários, for iniciado pelos últimos, pelos pobres. Esses não são apenas interlocutores para o convencimento, mas são os principais agentes no diálogo, e deles devemos aprender, escutando-os. 

A educação é fundamental para vencer a corrupção e promover o diálogo social em vista de uma ecologia humana, que implica “cultivar sem desenraizar, fazer crescer sem enfraquecer a identidade, promover sem invadir” (QA, 28). Os jovens indígenas são convidados a assumir as raízes, pois delas provêm a força que faz crescer, faz florescer e faz frutificar, recebendo dos mais idosos a sabedoria cultural. Considerando, infelizmente, a possibilidade de desaparecimento de algumas culturas, muitos povos começaram a escrever suas histórias e descrever o significado dos seus costumes. 

É claro que o Papa não defende um “indigenismo absoluto”, mas um diálogo cultural e social que deve interessar a todos, porque a riqueza da cultura indígena interessa também ao Ocidente e vice-versa. O lugar por excelência para esse diálogo é a família, que sempre contribuiu para manter viva a cultura de um povo. 

Padre Denilson Geraldo, SAC, é professor da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo. 

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