Na segunda-feira, 21 de abril, os maiores jornais do mundo – inclusive os do Brasil – traçavam, em termos quase sempre elogiosos, o perfil do Papa Francisco. Enquanto isso, segundo o Palver, especializado em análise de tendências nas redes sociais, nove mensagens únicas mencionando o Papa Francisco se tornaram virais no WhatsApp. Todas poderiam ser classificadas como rancorosas e mostrando uma visão deturpada de quem era o falecido.
Em um país em que se estima que metade da população é católica e até 80% dela é cristã, essa viralização de mensagens denegrindo a imagem do Papa merece uma reflexão. A primeira constatação é que o tão temido poder das mídias sociais de condicionar nosso modo de pensar está, hoje em dia, condicionado pelo meio que usamos preferencialmente para nos informar. Quem se informa pelas grandes mídias ficou sabendo que Francisco foi um Pontífice espetacular, um reformador que marcará positivamente a história da Igreja. Quem se informou pelo WhatsApp (e, provavelmente, pelas redes sociais em geral) tem grande chance de adquirir uma visão totalmente oposta.
Isso nos leva a duas conclusões desconcertantes para muitos. Primeira: não é verdade que a grande mídia é sempre anticatólica. Sua posição depende muito da nossa habilidade de mostrar a mensagem cristã de maneira adequada (e não se trata aqui de deturpar seu conteúdo, mas de saber como dizê-lo a quem parte de pressupostos diferentes dos nossos). Segunda: não é verdade que a grande mídia falseia a informação e as redes sociais (alimentadas majoritariamente por influenciadores) nos apresentam a verdade. Podemos ser manipulados sempre que seguimos de forma acrítica os veículos de comunicação que mais acessamos.
Por outro lado, qual a razão de um discurso antipapal fazer tanto sucesso em um país majoritariamente católico? Francisco nadou contra a corrente – e pagou um preço por isso. A lógica que orientou seu discurso foi a correção, para os vizinhos, e a compaixão, para os distantes. Aos católicos fervorosos, ele cobrou amor ao próximo, compreensão, acolhimento, desprendimento. Virtudes muito cristãs, sem dúvida, mas muito difíceis em um contexto no qual grande parte da comunidade se sente menosprezada, ridicularizada e desrespeitada pelo que considera a hegemonia de uma cultura secularizada. Aos distantes da fé e dos valores cristãos, por outro lado, Francisco ofereceu seu apoio e solidariedade. Apesar, da dificuldade objetiva desse discurso, não podemos negar que tem um grande antecessor: é a posição do pai da parábola do Filho Pródigo (cf. Lc 15,11-32).
Em meio ao maremoto de textos sobre Francisco que invadiu todas as mídias nesse período, havia uma entrevista de Dom Leonardo Steiner, Arcebispo de Manaus (AM), considerado representante indiscutível da postura eclesial defendida pelo Papa falecido. Logo de início, pergunta-se a ele “qual a maior contribuição de Francisco?” O Cardeal Steiner responde: a misericórdia, todo o resto é decorrência dela. Nada de reformas da Cúria, compromisso com bandeiras sociais ou novas formas de ser Igreja. Pura e simplesmente a essência do Evangelho: o amor misericordioso de Deus para conosco, todo o resto brota daí.
O Papa Francisco mostrou ao mundo uma obviedade: todos nós temos necessidade de um amor gratuito que nos ampare – e quanto maior esse amor, maior a nossa realização humana. Por isso, Deus é o único que pode nos mostrar toda a grandeza de nossa própria humanidade. Mas, para que sua mensagem se torne anúncio e proposta de conversão para todos que nos cercam, é preciso uma coisa: que cada um de nós se entregue ao amor de Deus como ele se entregou.