O reino da verdade

Logo que Jesus nasceu, alguns magos vieram do Oriente, e chegando a Jerusalém, perguntaram: “Onde está o recém-nascido rei dos judeus?”. O rei Herodes ficou abalado, bem como toda a Jerusalém. Durante sua vida pública, Jesus foi mostrando como esse Reino poderia ser construído, Reino que abalou Herodes e outros que detinham o poder nesse tempo. Contou, por meio de parábolas, que o Reino começa bem pequeno como uma semente de mostarda ou como o fermento na massa. Reino que é serviço, simplicidade, renúncia e doação. Mostrou que o Reino não se constrói sozinho, mas em equipe, e para isso chamou os discípulos. Ensinou a rezar, pedindo: “Venha a nós o vosso reino, assim na terra como no céu”. É desse Reino que Jesus é rei. 

Se no nascimento é Herodes quem fica abalado e usa do seu reinado para tentar sepultar a esperança do povo, no processo de julgamento e condenação é Pilatos, o governador, quem vai atuar de forma decisiva para que o justo seja condenado. Pilatos traz um modelo de reinar que se alimenta de violência, armas, crueldade e exploração do povo pobre, beneficiando os grandes. A lógica é combater e vencer a todo custo, mesmo que isso arrebente com os mais frágeis. É bom lembrar que hoje, ainda em pandemia, os mais ricos ficaram ainda mais ricos, sendo que 1% da população detém 50%, a metade da riqueza do país. Um escândalo.

O reinado de Jesus não tem marcas de violência nem favorecimento para os grandes. Seu Reino tem como marca o acolhimento, o serviço gratuito e a paz. Jesus é um rei que não destrói ninguém, não derrama o sangue dos outros e não sacrifica ninguém. Não é o povo que morre para salvar o rei, mas o rei que morre para salvar o povo: o pastor que dá a vida por suas ovelhas.  

Interrogado por Pilatos, Jesus responde, dizendo que seu reinado não é deste mundo e que Ele veio para dar testemunho da verdade. Então, não se trata de uma realidade abstrata, intelectual, mas da própria pessoa de Jesus, o “Caminho, a Verdade e a Vida”. Não atua como fanáticos que buscam a todo custo impor suas mentiras como se verdade fossem. Ele é testemunha e não se beneficia do poder que tem, mas o utiliza em defesa dos pequenos, dos feridos na vida, dos esquecidos. Não tolera a mentira e o encobrimento das injustiças. Não suporta a manipulação da verdade e o deboche do sofrimento humano, como vimos numa cena perversa em que uma autoridade imitava uma pessoa agonizando por falta de oxigênio.   

É urgente retomar a essência do reinado de Jesus. Na última ceia, depôs o manto, tomou o avental e passou a lavar os pés dos discípulos. Quem recebe a Eucaristia tem que aprender a lavar os pés dos outros em sinal de serviço; afinal “quem quiser ser o primeiro entre vós seja o servidor de todos” (Mc 10,44). No Sermão da Montanha, Jesus disse que são “felizes os que promovem a paz”. Em outra passagem, no processo de julgamento, logo que Pedro fere a orelha do servo do Sumo Sacerdote, Jesus diz: “Guarda a espada na bainha, pois todos que pegam a espada pela espada perecerão” (Mt 26,52). O Papa Francisco escreve dizendo que “a história nos ensina que os reinos fundados no poder das armas e na prevaricação são frágeis e, mais cedo ou mais tarde, desabam”. O reinado de Jesus se sustenta pelo serviço generoso e pela paz verdadeira, pois Ele é o “príncipe da paz”. 

Junto com a festa de Cristo Rei, celebramos também o dia do leigo e da leiga, pessoas que não receberam o sacramento da Ordem e atuam na Igreja, seja no ambiente interno, nos diversos ministérios, pastorais e movimentos, seja no ambiente externo, sendo presença no mundo da política, da educação, da saúde, da economia, do esporte, nas periferias. No livro do Apocalipse, capítulo 1, versículo 6, está escrito que Jesus fez de nós um reino de sacerdotes. Banhados nas águas batismais, somos impulsionados a fazer o Reino acontecer a partir da vocação que nos é específica, tornando mais santas as realidades em que atuamos, pois “todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”. 

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