O Reino de Deus está próximo

Os personagens do presépio já foram encaixotados, as luzes do Natal foram apagadas, os magos voltaram a seus países e Jesus foi revelado como o “Filho amado”. Agora começa o tempo do chamado, tempo de começar a caminhar com Jesus. Ouvimos, vimos, cantamos e até nos emocionamos. Não podemos guardar tudo isso como costumamos fazer com o presépio, que fica guardado o ano todo e só é reaberto em dezembro. Agora é tempo de seguimento.

João Batista, o precursor que preparou e anunciou o Messias, está preso por determinação do rei Herodes, que ficou incomodado quando foi denunciado pelo profeta por um comportamento imoral. Jesus é informado e decide partir para outro lugar, a Galileia, terra de fronteira onde transitavam pessoas de diferentes raças, culturas e religiões. A Galileia é o lugar simbólico para a abertura do Evangelho a todos os povos. É o lugar da cultura do encontro, tão necessária nos dias de hoje, pois o corporativismo vem ganhando forças, privilegiando grupos e seguimentos já privilegiados em prejuízo do bem comum.

E se a população da Galileia era formada pela mistura de diversos povos, sendo conhecida como “Galileia dos gentios”, população que não tinha as “qualidades” do tipo “gente do bem”, como se diz hoje, os primeiros que Jesus chamou também pareciam não ter “qualificação” para a missão. Não pertenciam à escola dos escribas, não eram doutores da lei, mas pessoas humildes e muito simples. Jesus foi chamar quem estava trabalhando, apareceu no cotidiano dos pescadores que estavam envolvidos com as redes do seu ofício. Seu olhar fixo fez com que aqueles simples pescadores pudessem oferecer aquilo que tinham de melhor. Deixaram-se impactar pela força do seu chamado e foram capazes de dar uma nova direção a suas vidas. Quem é preguiçoso sempre vai encontrar uma justificativa para não se comprometer com o chamado de Jesus de ser parceiro na construção do Reino. 

O tom inicial da pregação de Jesus não vem com ameaças, nem com anúncio de castigos. Começa proclamando a Boa Notícia de Deus: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo”. O Reino de Deus é o centro da mensagem de Jesus, a paixão que animou a sua vida. Nunca definiu o que é o Reino, mas fez diversas comparações, mostrando que é algo que irrompe de maneira surpreendente, ou seja, a vida tal como Deus deseja que vivamos.

“E, passando à beira do mar da Galileia, Jesus viu Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar… Caminhando mais um pouco, viu também Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca, consertando as redes”, abandonaram tudo e partiram seguindo Jesus. Nota-se que os primeiros a serem chamados foram duas duplas de irmãos, o que sinaliza que o chamado já revela um novo jeito de viver, ou seja, uma vida fraterna, vida em comunidade, comunidade de irmãos. Os primeiros a serem chamados estavam lançando as redes, enquanto que os outros dois as estavam consertando. Esse novo jeito de viver como seguidor revela que a Igreja precisa daqueles que “lançam as redes”, isto é, aqueles que saem em missão, bem como daqueles que “ficam” consertando as redes, estruturando os trabalhos pastorais.

“E deixaram tudo e se tornaram pescadores de homens.” Mais que tirar homens que se afogam num oceano de problemas, quer Jesus que seja extraído de cada pessoa o melhor que ela tem. Então, neste novo ano, vamos caminhar juntos, com coragem, alegria e esperança na companhia de Jesus pelas Galileias do nosso tempo, para que a Boa Notícia, “a Alegria do Evangelho, chegue até os confins da terra e nenhuma periferia fique privada da sua luz” (Papa Francisco). 

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