O Verbo se fez carne e habitou entre nós

Há um famoso painel do século XIII, no vitral da Encarnação da Catedral de Chartres, na França, que retrata a cena do nascimento de Jesus com um detalhe que pode parecer estranho para nós, mas que era comum nas representações medievais da Natividade: o pequeno Menino Jesus, em vez de estar no colo de sua Mãe, repousa a certa distância, envolto em panos e sobre um altar, como aqueles em que rezamos nossas missas. Essa associação entre o Menino Deus e a Sagrada Eucaristia, que já havia sido apontada em uma famosa homilia de Natal de São Gregório Magno, virou um tema frequente na espiritualidade eucarística medieval.

Não faltavam relatos de milagres eucarísticos nos quais, em vez de assumir a aparência de carne, a sagrada hóstia aparecia como uma adorável criança. A Legenda Aurea relata que Santo Eduardo, o Confessor, recebeu a graça de ver um menino revelado na hóstia durante a Santa Missa em Westminster – mas em geral esse milagre acontecia com cristãos em crise de fé ou com pagãos que precisavam se converter, ou ainda com crianças pequenas, em razão de sua pureza. De todo modo, São Tomás de Aquino toma o fato como relativamente ordinário, pois não discute se podia aparecer uma criança no lugar da hóstia, mas sim se, quando isso acontecia, continuava se tratando do verdadeiro corpo de Cristo (III, q.76, a.8).

A própria Bíblia, por sua vez, nos fornece vários paralelos surpreendentes entre a cena do Natal e a Sagrada Eucaristia. Primeiro, Jesus nasceu em Belém, que em hebraico significa “Casa do Pão” – e Ele mesmo havia afirmado ser o pão vivo que desceu do Céu, vindo para dar sua carne para a salvação do mundo (cf. Jo 6,51). 

Em segundo lugar, quando nasceu, o Menino não foi reclinado em um berço, mas em uma manjedoura, em um cocho – um lugar onde se coloca comida para os animais. Assim, ficava significado que Ele daria sua carne para alimentar-nos – a nós que, se não fomos criados como animais, nos tornamos muitas vezes, com nosso pecado, “semelhantes ao cavalo ou ao jumento, animais sem razão” (Sl 31,9). 

Terceiro, o Menino foi “envolto em faixas” e teve toda a sua beleza escondida pelos panos que o encobriam – assim como, na Sagrada Eucaristia, nós não vemos a glória do Filho de Deus, que fica velada por debaixo das aparências do pão e do vinho. 

E, por fim, em quarto lugar, os primeiros a contemplarem o Menino assim nascido foram os pastores – uma das profissões mais humildes que alguém podia ter, que cumpriam com vigilância seu dever em meio à noite. 

Sejamos, então, humildes como os pastores: estejamos alertas, neste Advento, para vermos os sinais do Menino: corramos para encontrá-lo, na Missa do Natal, no santo altar, próximo à sua santa Mãe, e nos alegraremos de niná-lo com ternura, carregando nos braços Aquele que com sua força governa as estrelas.

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