“Depois que João foi preso, veio Jesus para a Galileia proclamando o Evangelho de Deus: ‘Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho’.” (Mc 1,14-15). Jesus Cristo nasceu e cresceu sob o Império Romano. A Palestina foi terra de muitas etnias e esteve sob o comando de muitos reinos e impérios. Quando Jesus Cristo foi morto, Pilatos redigiu um letreiro “[…] estava escrito em hebraico, latim e grego […]” (Jo 19,20). Cinquenta dias depois da Ressurreição de Jesus, lembramos a Solenidade de Pentecostes. Os seguidores do Redentor estavam reunidos, em Jerusalém, e começaram a falar em línguas e deixaram a multidão perplexa, porque os moradores da cidade ouviram falar em suas próprias línguas (cf. At 2,9-11). Para conhecer o Cristianismo, necessitamos conhecer História, a História de Israel, os Impérios Macedônio e Romano. Cercados dessas ferramentas e tendo nas mãos a Sagrada Escritura, torna-se um momento privilegiado para o contato pessoal com o Filho de Deus e sua Igreja.
O Cristianismo deve ser entendido a partir do Judaísmo. Da religião mosaica nós herdamos o Antigo Testamento, a concepção do monoteísmo e a espera do Messias. A liturgia cristã se insere nas festividades judaicas e ganha compreensão e vida à luz de Cristo. Judeus e cristãos têm em Abraão o pai na fé. A língua hebraica torna-se necessária para ler e compreender a Revelação na sua originalidade dada por Deus aos hagiógrafos veterotestamentários.
O Cristianismo deve conhecer a história de Alexandre, o Grande. Da Macedônia, esse conquistador chegou ao Egito e alargou o seu Império até a Índia. Fundando as muitas Alexandrias, ele universalizou a língua grega e com ela, a Filosofia. A mais famosa Alexandria, no Egito, conheceu uma importante escola teológica. O apóstolo Paulo serviu-se da língua e cultura gregas para escrever suas cartas e epístolas e anunciar Jesus Cristo.
O Cristianismo precisa estudar a história de Roma e seu grande império. Quando Jesus nasceu, a Palestina era dominada pelo Império Romano. A Igreja vai se desenvolvendo internamente, quando em 117, Trajano conquistou os últimos territórios para Roma. Deste Império, temos a língua latina e as vias que cruzavam o seu imenso território, facilitando a evangelização. O Direito Romano será base para o Direito Canônico e a nomenclatura latina será utilizada e adaptada pelos cristãos.
Impérios e reinos sempre existiram. Assim que os macedônios e latinos tiveram um vasto império, o povo de Israel também teve a experiência de reino e reis. Jesus Cristo também anunciou o Reino de Deus. Como entender os reinos deste mundo e o Reino proclamado pelo Salvador? Os reinos da terra nascem e se desenvolvem. Em um determinado momento, sucumbem. Ao anunciar o Evangelho, Jesus Cristo indicou que o Reino de Deus começa aqui, mas se completará no fim dos tempos, quando ocorrerá a parusia (cf. 1 Tes 4, 13-18).
Para que o Evangelho fosse anunciado e todos recebessem e compreendessem a mensagem do Reino de Deus, Jesus edificou a Sua Igreja (cf Mt 16, 18). Os cristãos utilizaram as línguas e os recursos da época para dilatar o ensinamento do Bom Pastor. Parafraseando a parábola do semeador (cf Mt 13, 4-9), os cristãos da Igreja primeva organizaram a Esposa de Cristo como a semente que foi jogada à terra, nas casas e nas catacumbas. Enquanto o Império Romano saqueava, aprisionava e matava a multidão de mártires, a Igreja crescia como o grão de semente de mostarda (cf. Mt 13, 31-32). O Império Romano, no Ocidente, caiu em 476. A Igreja de Jesus está viva e atuante. “Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mt 28, 20).
Desde sempre reinos e impérios existiram. O Salvador serviu-se do seu tempo, utilizando as palavras e expressões de sua época, para que as multidões o ouvissem e nele acreditassem. Os apóstolos e seus sucessores, sobretudo os Padres da Igreja, e tantos homens e mulheres, cercaram-se dos recursos linguísticos para chegar mais perto da mensagem salutar do Evangelho. Negamos que a Igreja assemelha-se a quaisquer impérios e reinos. Negamos que a Igreja seja o querer de reis e imperadores. Afirmamos que a Igreja se apropriou da língua e das estruturas existentes para se organizar como corpo eclesial. Afirmamos que a Igreja é edificada por Jesus Cristo. Afirmamos que a cabeça da Igreja é Jesus Cristo, Salvador e Redentor (cf. Col 1,18).