A leitura sacramental da dignidade do corpo e do casamento

A vida conjugal é um tema transversal à Teologia do Corpo de São João Paulo II. Com base no estudo realizado, deparei-me com uma série de princípios sobre o casamento que devem ser lembrados, tais como: a indissolubilidade do casamento à luz dos primeiros capítulos do Gênesis; a dinâmica do amor conjugal e as demais consequências deste amor para uma vida pura no corpo e no espírito; e a possibilidade de santidade no casamento.

Mais uma vez, São João Paulo II reitera a exegese de São Paulo, endossando que o casamento é entendido à luz do mistério de Cristo e da Igreja. A instituição matrimonial existiu desde o início, e Cristo recorda os desígnios originais do Criador para o homem e a mulher: como Redentor da humanidade, Deus transforma a instituição familiar em um espaço no qual a redenção é possível.

No Antigo Testamento, o casamento expressava a imagem da aliança de Deus com o povo. Esta aliança atinge o seu ápice em Jesus Cristo, que sela a união de Deus com a humanidade para a eternidade. Dessa forma, o ser humano está destinado à eternidade com Deus e não a este mundo, e por isso o Apóstolo exorta-nos a não nos apegarmos demasiadamente às coisas terrenas, mas antes às de cima (cf. Col 3,2). Nessa perspectiva, o cristão deve viver o Matrimônio em vista da sua vocação definitiva com Deus. Portanto, quer na opção celibatária, quer na vida conjugal, o corpo deve ser expressão de uma realidade que vai além da visão finita deste mundo. São João Paulo II nos fala sobre isso:

“Com efeito, em um e em outro modo de vida – numa e noutra vocação – opera aquele dom que cada um recebe de Deus, isto é, a graça, que faz do corpo templo do Espírito Santo, e permanece tanto na virgindade (na continência) quanto no Matrimônio, se o homem permanecer fiel ao seu dom e, de acordo com o seu estado, isto é, a sua vocação, não desonrar este ‘templo do Espírito Santo’ que é o seu corpo”.

Quando Jesus se refere ao princípio no diálogo com os fariseus, descobrimos que o corpo tem um significado esponsal, pois é feito para o dom: “É esta capacidade de doação total que nos dá a dignidade das pessoas… e nesta liberdade o ser humano realiza aquilo para que foi criado”.

Assim, a dinâmica conjugal revela também o modo de ser de Deus, ou seja, a comunhão. Desta comunhão de pessoas, deriva a dimensão esponsal. Isto se baseia numa pertença recíproca das pessoas, sob o vínculo de uma aliança, por meio da qual o ser humano pode cumprir a sua vocação de ser dom, de se doar ao outro – o que complementa a sua solidão corporal. Na intimidade conjugal esta dimensão torna-se mais evidente, porque nela o homem e a mulher tornam-se uma só carne, expressando essa mesma unidade de vida que ambos formam neste mundo. Esta entrega mútua dos cônjuges implica sempre uma consciência madura do corpo.

Nesta maturidade, o ser humano percebe que o seu corpo não se destina exclusivamente à procriação, como no caso dos animais: o corpo é feito sobretudo para a comunhão das pessoas, para aquela plenitude de amor que Deus manifesta por meio dos seres humanos. A procriação é fruto desta mesma entrega amorosa; que, na verdade, perde todo o sentido se não for vivido em comunhão de vida.

Assim, por meio do dom e, consequentemente, da comunhão das pessoas, a humanidade realiza-se plenamente. Neste encontro de complementaridade, o ser humano descobre a sua vocação fundamental: dar-se ao “outro”, ao cônjuge – e descobre que dá testemunho do amor que Deus tem por ele. Esta entrega não é apenas uma questão de fecundidade e de procriação, mas traz consigo também a dimensão esponsal, como “a capacidade de expressar o amor”.

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