Pode-se argumentar que a existência cristã é guiada por uma tensão escatológica permanente, pois fala de uma realidade que nos ultrapassa, e por isso ansiamos. Uma das novidades do Cristianismo está precisamente na sua revelação corporal, pois Deus assume a nossa carne e a eleva para Si.
Na profissão de fé cristã está a verdade da Ressurreição de Cristo e da nossa ressurreição – na qual os nossos corpos se unirão às nossas almas, e, assim, participaremos plenamente no mistério da ressurreição de Cristo. Neste sentido, a Teologia do Corpo procura dar ao cristão uma visão integral da sua vida e constituição, que é marcada pela ação redentora de Cristo. Há também um aspecto importante na vida cristã: a presença do Espírito Santo como santificador dos fiéis e guia da Igreja. São João Paulo II diz: “Aqueles que, como esposos, segundo o desígnio eterno de Deus, se uniram até se tornarem, de certo modo, uma só carne, são também por sua vez chamados, por meio do sacramento, a uma vida segundo o Espírito, correspondente ao dom recebido no sacramento. Em virtude desse dom, eles são capazes de redescobrir a graça particular da qual se tornaram parte”. Sem o Espírito Santo é impossível compreender a lógica do dom ou as suas implicações escatológicas.
Nos Evangelhos Sinóticos (Mt 22,23-32; Mc 12,8-27; Lc 20,34-39), Jesus se pronuncia em relação à ressurreição dos corpos, dizendo que o casamento não é uma realidade escatológica. A união carnal não acontece no céu. Nele, seremos homem ou mulher em virtude do corpo, mas de forma transformada com Deus. Os corpos serão assim expressão da nossa união esponsal com Deus. A ressurreição dos corpos não fazia parte da fé dos saduceus. Portanto, ao colocarem o problema da esposa que teve sete maridos, procuram desconstruir o ensinamento de Cristo. Mas quando Cristo diz que “quando ressuscitarem dentre os mortos, não se casarão nem se darão em casamento, mas serão como os anjos no céu” (Mc 12,25), revela um ponto fundamental da revelação cristã. A ressurreição dos corpos será a plena manifestação da nossa conjugalidade – não entre homens e mulheres, mas para com o próprio Deus.
Por um lado, para numerosos teólogos é claro que quando ocorrer a ressurreição dos mortos, a humanidade estará completa, estará quantitativamente fechada – a procriação não será mais necessária. Por outro lado, a nossa vontade de comunhão será plenamente satisfeita, pois a nossa relação com Deus será perfeita. Tal comunhão será tão perfeita que outras formas de intersubjetividade terrena serão infinitamente pequenas diante da comunhão que viveremos com Deus.
Em resumo, o corpo será glorificado e o Espírito Santo estará nele com todo o seu poder. Quando nos referimos à ressurreição, não podemos pensar na mera renovação corporal – a ressurreição visa a glorificação da humanidade, estabelecendo a sua perfeita integridade: é a restituição humana à verdadeira vida corporal, que foi submetida à morte no seu curso histórico.
A Teologia do Corpo contribui assim para uma renovação da visão cristã das realidades terrenas, nomeadamente do nosso corpo. Nada do que foi dito por São João Paulo II na sua reflexão teológica está fora do mistério da humanidade à luz da revelação de Cristo.
É a partir de Cristo que o Papa polaco lê toda a vida humana no seu horizonte histórico, e é também a partir dele que nos recorda que a morada do homem não é este mundo: é estar com Deus.
A abordagem inovadora e brilhante de São João Paulo II tem muito a dizer à Igreja hoje, especialmente no momento em que a crise nas famílias se torna uma grande preocupação. Muitos dos problemas estruturais que existem hoje envolvem necessariamente uma abordagem deficiente da corporeidade – uma visão utilitária, semelhante ao uso das coisas deste mundo.
Sem dúvida, o corpo humano foi coisificado e vale este esforço de resgate da sua dignidade!