As mulheres na Igreja

Sergio Ricciuto Conte

Na manhã da Páscoa, o Mestre Vivo se manifesta à Madalena, mas tal encontro não era um dom reservado somente para ela, muito pelo contrário, quis Ele lhe confiar uma missão: “Vai a meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17). Jesus a envia aos Apóstolos. Ele lhe confirma seu lugar de honra na Igreja. O Mestre faz dela a Apóstola dos Apóstolos. 

Ali, naquele Jardim, se inaugura uma longa linhagem de Apóstolas do Ressuscitado, que, apesar de todas as dificuldades e oposições, se sucederam na história da Igreja. Mulheres, em todos os estados de vida, que tiveram a árdua tarefa de anunciar a Ressurreição à Igreja e ao mundo. 

Foram muitas as contribuições teológicas, pastorais e litúrgicas que deixaram à Igreja. Muito particularmente deram uma contribuição constante à eclesiologia, sem jamais cederem à mundanidade, de que nos alerta o Papa Francisco. 

Sem dúvida, na prática, a relação delas com a Igreja hierárquica foi muito complexa. Mas, pela ação misteriosa do Espírito Santo, conseguiram com os olhos da fé contemplar nela o Mistério de Deus conosco. Especialmente neste momento em que a Igreja convida a todos a olharem para seu mistério íntimo, por meio do processo sinodal, a contribuição destas mulheres é inestimável. 

O Papa Francisco hoje nos exorta a “escutar o Espírito, na adoração e na oração”, e quem melhor do que essas grandes contemplativas para nos ajudar? Em matéria de escuta – seja de Deus, seja do choro dos irmãos –, as místicas são especialistas. 

Antes de mais nada, elas nos ajudarão a redescobrir a beleza trinitária da Igreja. Concepción Cabrera de Armida vê na Igreja “imagem e reflexo da Trindade”, e Trinidad Sánchez Moreno poeticamente canta: “Minha Igreja Santa é a Trindade na terra em expressão divina e humana. Minha Igreja é a Fala de Deus aos homens. Minha Igreja é meu Deus com coração de Mãe. Minha Igreja é minha Mãe com coração de Deus!”.

Por meio de sua vida e seus escritos, elas nos introduzem na realidade esponsal da Igreja. Assim escreve Madeleine Delbrêl: “Na Igreja, Esposa de Cristo, toda a humanidade é chamada ao seu amor. Cada batizado participa desse amor nupcial”.

Sobretudo, e de maneira muito contundente, fazem-nos encontrar nosso próprio lugar na Igreja e viver ativamente como seus membros. Madre Oliva Bonaldo, fundadora das Filhas da Igreja, assim escreve: “No Corpo Místico de Jesus, eu gostaria de ser uma gota de Sangue vivo para levar a Vida no seio da Igreja a todas as células dos seus membros. Meus desejos não têm fronteiras”. 

Não será talvez este processo sinodal um momento providencial para, com elas, descobrir e fazer descobrir a Face materna da Igreja?

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.

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