Direitos humanos e humanos direitos

Em 10 de dezembro, celebramos o Dia Internacional dos Direitos Humanos. No caso das realidades conflagradas, tais como Palestina, Ucrânia, Síria, Venezuela, Afeganis­tão, Haiti, Sudão do Sul, Iêmen, entre outras, salta à vista a violação siste­mática dos direitos humanos. Desde um ponto de vista teológico-pastoral, o conceito de direitos humanos tem a ver com aquilo de que uma pessoa necessita para manter de pé e vivas sua identidade e dignidade, como fi­lho e filha de Deus.

Para além ou para aquém dessas realidades, porém, ocultam-se nu­merosas situações que, embora de forma menos ostensiva e menos dra­mática, violam os direitos humanos. Basta percorrer as ruas e praças, na cidade, ou as comunidades rurais, no campo, para dar-se conta da quanti­dade de pessoas vítimas de tais prá­ticas violentas. Destacam-se os povos indígenas, as populações ribeirinhas, o povo em situação de rua, as comu­nidades quilombolas, os migrantes e refugiados; as condições precárias de trabalho e moradia, o disfarce do empreendimento autônomo que às vezes não passa de autoexploração o desemprego, enfim, uma multidão de trabalhadores, trabalhadoras e fa­mílias abaixo da linha da pobreza.

Nos últimos anos, o Papa Fran­cisco, na continuidade dos princípios da Doutrina Social da Igreja, vem alertando para as pessoas vulnerá­veis às mudanças climáticas, cada vez mais bruscas e extremadas. A en­cíclica Laudato si’ (2015) e a exorta­ção apostólica Laudate Deum (2023) são dois documentos centrados na questão ambiental. A vertiginosa ve­locidade do processo de produção, comércio e consumo viola o ritmo milenar da natureza, causando o de­senraizamento progressivo dos cha­mados “refugiados climáticos” que fogem de furacões, ciclones, estia­gens, inundações. Não faltam acor­dos e metas internacionais a serem cumpridas. O que falta é a firme de­cisão de colocar em prática as regras acordadas em comum.

Por outro lado, felizmente, vem crescendo a consciência sobre a pre­ servação do meio ambiente. O desa­fio está em converter tal consciência em decisões viáveis e eficazes. Aqui, da mesma forma que a devastação e o aquecimento global do planeta têm responsabilidades diferenciadas, serão também diferenciados os cui­dados com a vida e a biodiversidade. Ações locais e regionais são necessá­rias, sem dúvida, mas nada se resol­ve sem os compromissos nacionais e globais. Sem a contribuição decisiva das economias mais ricas, que são também as que mais poluem, é muito pouco e muitas vezes vão o que pode­mos fazer individualmente.

Além da defesa e garantia dos direitos humanos, necessitamos da tomada de decisão de humanos di­reitos, em particular entre as auto­ridades, para a reversão efetiva dos estragos em andamento. Disso se conclui que os Direitos Humanos se encontram estreitamente vinculados aos Direitos da Terra. Torna-se cada vez mais evidente que tudo está in­terconectado. Uns e outros devem ter como horizonte, para além do lucro e da multiplicação do capital, a vida em primeiro lugar, junto com a defe­sa das populações mais ameaçadas.

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