Novamente, as manchetes de portais de notícias trazem títulos como “Por que casamentos duram cada vez menos no Brasil?” Ou, de uma maneira um pouco mais leviana, “Casados em casas separadas? Por que não? Pode ter traição sob o mesmo teto”.
O que está em jogo hoje não é tanto o fato de situações como essas existirem (sempre ocorreram), mas sim de que elas são celebradas (explícita ou implicitamente) como manifestações da evolução dos costumes e da liberdade do indivíduo. A própria noção de casamento torna-se mais tênue, dando lugar a relacionamentos fugazes e alternativos. O importante para esta mentalidade é que os indivíduos (não só um homem e uma mulher, mas todo tipo de arranjo de acordo com as conveniências do momento) se sintam bem na relação.
Parece que precisamos voltar ao bê-á-bá: porque mesmo surgiu, ao longo da história da humanidade, o arranjo matrimonial monogâmico e envolvendo um homem e uma mulher, a tal ponto que a Igreja o adotou como lei natural e elevou-o à dignidade do sacramento?
Primeiro, pela própria ideia da reprodução sexuada, que antecede em muito o homo sapiens e continua a moldar a cultura. Como indivíduos, somos mortais, temos como dever produzir vida, e vida em abundância, por meio da sucessão das gerações, e poder ver “os filhos de nossos filhos” (Sl 128,6). Mas o bebê humano, ao contrário dos outros primatas, nasce sempre prematuro, exigindo longos anos de nutrição e educação para assumir seu lugar na longa cadeia das gerações. Novamente, ao contrário dos outros primatas, a fêmea humana não fica com o ônus da tarefa sozinha, pois o pai das crianças é incentivado a permanecer ao lado dela não só pelo tempo de maturação da prole, mas por toda a sua vida. A isso chamamos de “fidelidade” (associada etimologicamente a outras como “fé”, “fiel” e “confiança”), justamente o contrário de “trair”, como parece que se tornou tão natural.
Um relacionamento a dois que não apenas resista às intempéries da existência, mas que faça os dois crescerem em humanidade, é realmente algo a ser almejado. Quase todos dirigem palavras elogiosas a casais que permanecem juntos e felizes por décadas, mas parece não ser importante que esse modelo se mostre como exemplar a todos e a qualquer um.
O que foi perdido ao longo do caminho, para não haver mais um modelo, para não se sentir mais necessidade de um compromisso duradouro que envolva tanto o casal quanto as crianças? Não há uma resposta única, nem únicos culpados. Mas uma coisa é certa: sem o testemunho de casais cristãos, que constroem sua casa sobre a rocha, o modelo de casamento que mais corresponde à ordem mais natural das coisas vai se perder na névoa do gosto e do prazer do momento. Como não sabemos andar na névoa, Paulo nos dá um caminho seguro no círculo do amor que envolve pais e filhos: Efésios 5,22 a 6,4. Mas só o esforço de cada um não sustenta esse círculo, frágeis que somos, daí que Paulo o situa no mistério de amor que envolve Cristo e sua Igreja: “Grande é esse mistério!” (Ef 5,32).