Reproduzo aqui o título de uma coluna recente, publicada nas redes sociais, sobre um tema tão fundamental na vida humana. A autora constata que sim, o amor tem acabado e, depois de falar de algumas razões para tanto, sugere algumas pistas para que o amor pelo menos “dure um pouco mais do que um curta-metragem”. Considerando-se o vale-tudo a que assistimos hoje em dia, a matéria é até bem equilibrada, e seu ponto central reflete a herança cristã do Ágape: “O amor precisa de empatia (se colocar no lugar do outro) e generosidade”. Porém, sua conclusão posterior é desanimadora: “Algumas pessoas simplesmente não conseguem manter isso”.
A matéria fala de relacionamentos a dois, como se fosse um fim em si próprio. Não há referência à constituição de uma família, nem dos filhos que usualmente venham a enriquecer o relacionamento. Sem esse contexto que fala da realidade da vida e da reprodução propriamente humana, o amor, de fato, tende a se enfraquecer. Mas o ponto que quero ressaltar advém da afirmação de que “algumas pessoas não conseguem manter empatia e generosidade”.
Nisso a matéria diverge bastante da vivência cristã do amor.
A conclusão é desanimadora porque, na verdade, nenhum de nós consegue manter empatia e generosidade o tempo todo, em todas as circunstâncias. Afinal de contas, somos seres finitos e pecadores, promovemos simultaneamente a generosidade e o egoísmo. Não é preciso dizer o quanto a dinâmica do perdão é importante no âmbito familiar, principalmente o perdão sacramental. Essa dinâmica pressupõe uma via de mão dupla, um único membro da família não pode ser o responsável pelo ato de perdoar. E quando uma das partes começa tirar mais proveito do que deveria dentro dessa dinâmica? Essa também é uma preocupação da autora da matéria.
O que está totalmente ausente do artigo é a figura de uma comunidade de apoio que acompanhe o casal desde o seu início. Primeiro, a família estendida, em seguida os amigos e todo tipo de grupos de apoio que possam surgir. Afinal, para que servem os padrinhos em um casamento senão para dar suporte ao casal (curioso que muitos hoje veem o convite apenas como forma de prestigiar os amigos e assegurar melhores presentes…). Todos devem apostar na manutenção do vínculo que une o casal, corrigindo, exortando e apoiando, sem tomar partidos, como se o casamento fosse uma competição de quem faz o outro mais (ou menos) feliz.
O amor acaba? Não, não existe para isso. Ao amar “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”, o ser humano distancia-se de seus impulsos animais e de seus cálculos utilitários e realiza-se plenamente. Para seres frágeis como nós, isso é quase impossível, por isso o amor é um dom, uma graça que, como na pará- bola dos talentos, precisa ser multiplicado, gerando um círculo amoroso que se projeta no tempo e no espaço (por exemplo, nos filhos) e acolhe o Cristo que bate à porta.
Eduardo R. Cruz é professor titular do Departamento de Ciência da Religião da PUC-SP, tendo graus avançados em Física e Teologia; publicou extensamente sobre o relacionamento entre ciências naturais e fé cristã.
Querido professor Eduardo Cruz , adorei essa matéria , lembrei-me de suas sábias aulas na Puc, que saudades!!! Aprendi além de conteúdos, pensamentos reflexivos que levo para a vida!!! Muito obrigada professor Eduardo Cruz.
Note na expressão “na alegria e na tristeza” E quando só há tristeza? Por que essa imposição de ter que manter algo que só faz perpertuar o sofrimento?