O impacto socioeconômico do desastre ambiental causado pelas chuvas recentes no Rio Grande do Sul é imenso, com a desestruturação da vida de milhares de pessoas e das cadeias produtivas do estado. O mais chocante é que a cada dia novas notícias nos informam que a comunidade científica já estava alertando havia anos para a possibilidade de um evento como esse, que as precipitações anuais vêm crescendo no estado há muito tempo e as inundações têm sido cada vez mais frequentes.
A precaução é (ou deveria ser) um princípio básico a orientar a nossa relação com o mundo natural. Seria temerário e irresponsável não considerar que as mudanças climáticas estão criando uma condição ambiental para o Sul do Brasil – e que devemos nos preparar para os novos tempos… Aliás, essa é uma realidade global, e nossos irmãos gaúchos são as vítimas mais recentes do problema, porém não as únicas.
Infelizmente, a recorrência de tragédias ambientais em outras partes do Brasil, como, por exemplo, nos deslizamentos e inundações em Petrópolis (RJ) e em São Sebastião (SP) mostram que somos um povo duro de aprender. As autoridades não são sábias, omitindo-se e subestimando os perigos advindos do manejo inadequado do meio ambiente; os empresários não levam em consideração os cuidados necessários para a proteção de seu próprio patrimônio; nós, eleitores, não exigimos dos políticos eleitos uma conduta responsável em relação aos ecossistemas e às mudanças no clima.
Frequentemente, observamos, admirados, a sabedoria e a resiliência de nações frequentemente fustigadas por terremotos, tsunâmis e erupções vulcânicas. Admiramo-nos como suas cidades sobrevivem aos desastres; como sua população sabe como agir diante da catástrofe; a rapidez da reconstrução… Tudo isso é possível porque os governantes e o povo adquiriram a necessária sabedoria para conviver com as ameaças ambientais. A educação prepara os jovens, desde pequenos, a respeitarem a natureza e saberem como se portar diante dela; os gestores procuram implementar medidas de precaução para evitar tragédias ainda maiores; o planejamento considera seriamente os perigos ambientais.
Está na hora de nós, brasileiros, adquirirmos essa mesma sabedoria. Não dá mais para supor que um “Deus brasileiro” nos livrará das tragédias e nos permitirá uma conduta irresponsável. Como diz o provérbio popular: “Faz diligência e Eu te ajudarei”. Algumas lições devem ser aprendidas com as tragédias ambientais que estamos vivenciando com cada vez mais frequência.
Em primeiro lugar, temos que “despartidarizar” a questão ambiental. Num passado não muito distante, à esquerda e à direita encontravam-se pessoas que reconheciam que a natureza era um bem para todos os seres humanos e a luta por um uso sábio dos recursos ambientais era um dever de todos. Mais recentemente, essa questão foi tomando caráter partidário e muitos se movem mais por preconceitos ideológicos e partidários do que por uma observação sincera do que está acontecendo…
Depois, a prevenção e a precaução devem ser efetivamente incorporadas à educação ambiental e ao planejamento. A população tem que aprender a reconhecer os perigos e as adversidades a que está sujeita; saber como se proteger no desastre; construir e organizar a própria vida, evitando situações de risco (pois, sem os devidos cuidados, as tragédias mais cedo ou mais tarde acontecerão). Os planejadores têm que buscar um desenvolvimento adequado aos desafios ambientais, evitando ocupar zonas de risco, investindo em estruturas de proteção e sua manutenção, conservando o meio ambiente.