Arquidiocese lança manual de boas práticas ambientais com foco na conversão ecológica

Em comemoração aos 10 anos da encíclica Laudato si’ e como gesto concreto da Campanha da Fraternidade (CF) de 2025, a Comissão Arquidiocesana Testemunho e Serviço da Caridade e o Vicariato Episcopal da Caridade Social lançaram, no sábado, 17, na Catedral da Sé, o manual de boas práticas ambientais “Conversão Ecológica na Igreja em São Paulo”.

Com São Paulo Apóstolo e São Francisco de Assis como personagens em quadrinhos, o material trata sobre as responsabilidades de todos com a Casa Comum, traz trechos da Laudato si’, dicas sobre hábitos pessoais e ações comunitárias e convida ao engajamento por políticas públicas ambientais e de justiça climática.

“Esse subsídio é um gesto concreto para a Campanha da Fraternidade. Nós elaboramos o formato, personagens, a seleção de conteúdo. É um conteúdo que traz dicas muito práticas, e este formato tem uma linguagem que serve tanto para as crianças quanto para os adultos, voltada para criar consciência e levar a compromissos práticos com o meio ambiente no dia a dia”, afirmou o Cônego José Renato Ferreira, Coordenador da Comissão Arquidiocesana Testemunho e Serviço da Caridade.

O subsídio será enviado às paróquias e, futuramente, disponibilizado para download.

MOTIVAÇÕES

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Um dos redatores do manual é o Frei Marx Rodrigues dos Reis, OFM, Pároco da Paróquia Santa Cruz, na Região Brasilândia, e responsável pelo Serviço Inter­franciscano de Justiça, Paz e Ecologia (Sinfrajupe).

Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Frade ressaltou que a principal motivação da Comissão Arquidiocesana Testemunho e Serviço da Caridade para a elaboração do manual foi o desejo de tornar permanente, na vida pastoral da Igreja em São Paulo, os apelos da encíclica Laudato si’ e das recentes Campanhas da Fraternidade, sobretudo aquelas que abordam a ecologia integral, a vida e o cuidado com os vulneráveis.

“A Arquidiocese de São Paulo possui uma rica história de atuação eclesial ao lado dos menos favorecidos – uma Igreja que, como dizia Dom Paulo Evaristo Arns, ‘opta pelos pobres, sem ódio aos ricos’. Hoje, entendemos que nossa Casa Comum, a Mãe Terra, está também entre os vulneráveis, diante da ganância, do extrativismo descontrolado e da indiferença humana (cf. Laudato Si’, n. 2 e 20)”, detalhou Frei Marx, lembrando ainda que na encíclica Francisco enfatiza que não há crises separadas: uma ambiental e outra social, mas uma única e complexa crise socioambiental (cf. LS 139).

“A cartilha nasce como um instrumento pastoral que busca criar pontes entre a fé cristã e a urgência de uma conversão ecológica tanto pessoal quanto comunitária, pois, como nos alerta o Papa: ‘toda mudança precisa de motivações e de um caminho educativo’ (LS 15)”, prosseguiu.

Também redator do manual, Eder Francisco Silva, integrante da Pastoral da Ecologia Integral do Regional Sul 1 da CNBB, destacou que a motivação para sua elaboração é que a Arquidiocese, também por meio desta Pastoral, ajude na construção de uma sociedade justa, fraterna e ecológica: “Que façamos um caminho levando a pauta da Ecologia Integral, em comunhão com o Papa Francisco e com a Igreja em São Paulo, a todas as demais pastorais, entendendo que toda atividade pastoral e serviços na Arquidiocese devem ser ecológicos, tendo na sua essência pastorais o cuidado com Casa Comum a partir do serviço pastoral prestado”.

CONTEÚDOS DA CARTILHA

Reprodução

Ainda de acordo com Eder, os conteúdos do subsídio “abordam práticas transformadoras que podem e devem ser usadas no dia a dia, como a reciclagem, o uso consciente da água e da energia, práticas de caridade e dicas para tornar a paróquia mais ecológica em suas ações”.

Frei Marx detalhou que o conjunto de conteúdos abrange três níveis de práticas:

Hábitos pessoais: gestos do cotidiano que ajudam a cultivar uma espiritualidade ecológica, tais como evitar o desperdício de água e alimentos, reduzir o uso de plásticos, dar preferência à mobilidade sustentável, praticar o consumo consciente. “São pequenos passos que, como indica a Laudato si’, fazem parte de uma mística de cuidado” (cf. LS 211).

Práticas em comunidade: “Propomos ações conjuntas nas paróquias, comunidades eclesiais de base e pastorais, como hortas comunitárias, mutirões de limpeza, celebrações temáticas, coleta seletiva paroquial, uso responsável dos espaços litúrgicos. É também na vivência comunitária que a fé se fortalece e transforma o ambiente local”.

Engajamento para políticas públicas: “A cartilha convida os fiéis a se envolverem ativamente na sociedade, por meio do apoio a iniciativas públicas de proteção ambiental, conselhos de meio ambiente, denúncia de crimes ecológicos e incentivo a políticas de justiça climática. Como Igreja, temos o dever de anunciar o Reino e denunciar as estruturas de morte que ameaçam a vida e a criação”.

OS FUNDAMENTOS QUE EMBASAM O SUBSÍDIO

De acordo com Eder, os conteúdos da cartilha foram pensados a partir de práticas pastorais em especial da pastoral Ecologia Integral do Regional Sul 1 da CNBB e da encíclica Laudato si’: “Com estes conteúdos, temos o horizonte de chegar cada vez mais longe, levando consciência ecológica e ambiental, construindo com mais solidez de pessoas e grupos com educação socioambiental”.

Frei Marx afirmou que o manual “é uma resposta pastoral, metodológica e concreta para inserir a questão socioambiental como parte do discipulado cristão em nossa Arquidiocese”, e que o subsídio “parte da compreensão de que a conversão ecológica não é apenas uma decisão ética ou ambiental, mas profundamente espiritual. Trata-se de ‘uma nova solidariedade universal’ (LS 14), que se expressa em ações concretas, cotidianas, sustentadas pela Palavra de Deus e pelo ensinamento da Igreja”.

O Frade ressaltou, ainda, que o subsídio tem como base a perspectiva da ecologia integral, como proposta pela Laudato si’ (cf. LS 37-162): “Isso significa reconhecer que tudo está interligado: o meio ambiente, a vida humana, a justiça social, a economia, a espiritualidade. Não é possível falar de fé cristã sem considerar o cuidado com a criação, a justiça para com os pobres e o compromisso com as gerações futuras”.

“Inspirados pela tradição profética e pela Doutrina Social da Igreja, buscamos responder à pergunta: como traduzir o Reino de Deus em práticas ambientais em nossas casas, comunidades e cidade? E entendemos que o caminho da conversão precisa unir tanto práticas pessoais – que nos ajudam a reencontrar nosso lugar na criação – quanto ações coletivas, que materializam o desejo de Deus na história”, prosseguiu Frei Marx.

Por fim, o Frade franciscano disse desejar que as reflexões da cartilha “cheguem aos espaços de catequese, de formação permanente e de amadurecimento da fé. O cuidado com a criação deve ser visto como um mandato ético, moral e sagrado, especialmente no zelo com as crianças e os mais pobres”.

VEJA A ÍNTEGRA DO MANUAL DE BOAS PRÁTICAS AMBIENTAIS

LEIA O ARTIGO DE EDER FRANCISCO SOBRE OS 10 ANOS DA LAUDATO SI’

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