A maior reflexão que o mês das missões, realizado em outubro, nos trouxe, é a de que o nosso trabalho não acaba com as datas comemorativas. O tempo passa e reforça a nossa missão: Amar a Deus sobretudo, como primeiro mandamento, e ao próximo sem medidas. “A falta de amor é a maior de todas as pobrezas”, nos deixou a mensagem de Madre Teresa; e “Não tenhais medo!”, de João Paulo II (Mc 6,45-52). Ambos marcaram o nosso tempo com suas figuras e ações – dentro e fora da Igreja, vivendo o Evangelho na missão de servir ao próximo.
Da Índia ao mundo, considerada a maior missionária do século XX, em 20 anos o seu trabalho missionário estava espalhado em diversos países, como Albânia, Rússia, Cuba, Canadá, Palestina, Bangladesh, Austrália, Ceilão, Itália, sem contar ainda com os Estados Unidos, e abriu casas de caridade nos países comunistas como a antiga União Soviética e China. São João Paulo II teve papel importante para o fim do comunismo na Polônia e em outros países da Europa e, nos anos 1980 e 1990, influenciou a restauração da democracia e liberdades religiosas. A primeira encíclica, Redemptor hominis, explica a ligação entre a redenção por Cristo e a dignidade humana.
Desde então, todas as outras recordações devem nos encher de caridade, prazer e orgulho em servir. É essa a verdadeira irmandade herdada da filiação divina que nos une. Um discurso rememorado nos diz: “Deus, dai-nos a coragem para proteger a criança no ventre de sua mãe. Pois a criança é o maior presente de Deus para a família, para a nossa nação e para o mundo inteiro”. Ou, “A Igreja olha o futuro com confiança”.
Em 1997, Madre Teresa sofre um ataque cardíaco. A nota geral divulga que ela preparava um serviço em homenagem à Princesa Diana de Gales, Lady Di, membro da Família Real Britânica, e sua amiga pessoal. Lady Di faleceu em 31 de agosto do mesmo ano – e a Madre atuava ainda dentro do período do sétimo dia. Madre Teresa morreu em Calcutá, e o seu funeral foi tratado como de Estado. Vários foram os representantes do mundo que quiseram estar presentes para prestar homenagem. As televisões do mundo inteiro transmitiram ao vivo, durante uma semana, os milhões que queriam vê-la no estádio Netaji.
A lembrança desses dois grandes santos nos deixou aceso um rastro de memórias que marcam profundamente a alma. Embora seja uma realidade dura, e com desculpas ao spoiler, fato é que “nossos dias estão contados” (Jó 14,5). Por que os dons se o chamado de Deus, o tempo da vida é irrevogável (Rm 11,29). Passam santos, chefes de Estado, rainhas e princesas.
Assim lembramos, “pobres sempre haveis de ter” (Mc 14,7) e “o que fizeres a um desses, a mim o farei” (Mt 25,40). E fica o eco da Santa das Sarjetas: “Eu digo para mim mesma: este é Jesus com fome, eu tenho que alimentá-lo. Este é Jesus doente […] eu tenho que cuidar dele. Eu sirvo porque eu amo Jesus”.
Líderes das grandes potências, com os melhores economistas do mundo, renomados pelas melhores universidades, não deram conta de resolver a pobreza no mundo. Precisamos ver às luzes da palavra de Cristo e compreender totalmente a dimensão transcendente desse trabalho.
Em 2005, o Papa Bento XVI, na encíclica Deus caritas est, cita Madre Teresa, recordando a passagem bíblica “Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1Jo 4,16). Concluímos que os santos não teriam conseguido se não fosse assim. Como exemplos de oração e ao mesmo tempo de fé operativa. Hoje devemos compreender melhor que eles celebram a alegria de poder compartilhar o amor de Deus.
Patrícia Midões de Matos é mestre em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero. Especialista em Ciências Humanas pelo Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS).