Aspiramos à felicidade, dignidade, equilíbrio afetivo-socioeconômico, tudo que nos permita ter uma vida em harmonia. Inegável a centralidade que tem a questão econômica nesta equação, sendo que, da escolha do sistema econômico, depende se haverá, ou não, justiça social. As concepções econômicas são inúmeras, e muitas delas não se preocupam minimamente com os mais pobres. No Brasil, como em muitos outros países, existe a prevalência da mentalidade das pessoas mais ricas.
Ainda que se possa supor que estejam de boa-fé, suas interpretações são de causar perplexidade. Recentemente, li sobre um fato ocorrido faz alguns anos que retrata esta situação: a filha de um conhecido empresário de comunicação e dentre as maiores fortunas do país defendia que seu pai não poderia ser prefeito de São Paulo (se cogitava, à época, sua candidatura), pois, sendo ele muito generoso, iria construir hospitais, escolas e melhorar o sistema de transporte, e isto resultaria em problemas para os mais pobres.
Na sua concepção, estas melhorias gerariam gastos e seria necessário cobrar mais impostos, os quais as pessoas carentes não iriam conseguir pagar. Então, finalizava sua fala dizendo que era melhor permanecer sem estas melhorias e manter os impostos como estavam, para que o pobre pudesse sobreviver. O pai ouviu a fala e aplaudiu. Certamente, não faz parte da mentalidade destas pessoas a percepção de que o Estado tem responsabilidades sociais e que os impostos devem ser cobrados proporcionalmente ao poder aquisitivo e ao patrimônio e riqueza de cada um.
Na mesma linha, temos a concepção econômica neoliberal, como a proposta pelo Instituto Mises, de que o Brasil precisa de mais desigualdade, como fonte de progresso, pois os talentosos – privilegiados numa sociedade desigual, desde que não haja corrupção – criam mudanças econômicas e tecnológicas que permitem que as pessoas medianas ingressem nos círculos da elite.
Na verdade, bastaria uma economia minimamente participativa e inclusiva para acabar com a fome no mundo. Estudo publicado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) informa que a produção mundial de alimentos é suficiente para suprir a demanda dos quase 8 bilhões de pessoas que habitam a Terra. Apesar disso, aproximadamente, pelo menos uma em cada nove dessas pessoas ainda vive a realidade da fome.
Qual economia pode ser inclusiva, justa e participativa?
Dentre tantas propostas, vamos lembrar três delas: Economia Solidária, de Paul Singer; Economia de Comunhão, de Chiara Lubich; e Economia de Francisco, proposta pelo Papa Francisco.
Na Economia Solidária, os princípios básicos são a propriedade coletiva ou associada ao capital, resguardando-se o direito à liberdade individual. Uma completa inversão da concepção utilitária da economia, tendo o favorecimento da pessoa como centro do pensamento.
Na Economia de Comunhão, a proposta é que as empresas destinem livremente parte do lucro para a formação dos trabalhadores e da comunidade ao redor.
Na Economia de Francisco, com base na figura de São Francisco, propõe-se a manutenção de uma renda básica que deve ser garantida a cada pessoa, dando dignidade à pessoa pobre.
São estes apenas princípios básicos.
No artigo “Qual Economia II”, abordaremos de forma mais detalhada, ainda que sinteticamente, cada uma destas concepções de economia.
Luiz Antonio Araujo Pierre é membro do Movimento dos Focolares. Professor e advogado. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.
Boa Pierre
Primeiro em ter publicado no Whats o teu artigo.
Depois a tua publicação, com competência e luz …
Artigo muito oportuno, especialmente em tempos nos quais a economia parece ter se tornado o centro da vida humana, ou melhor, uma certa corrente econômica frequentemente tomada como pensamento único, com força dogmática.
Tenho acompanhado a Economia de Francisco, uma aposta nas novas gerações, capazes de produzir um pensamento econômico mais justo e inclusivo, mais conforme à ecologia integral.
É sempre muito bom lembrar que a economia é muito importante, mas é apenas uma das muitas dimensões da nossa existência, ao lado daquela espiritual, interpessoal, artística, cultural, política…
Parabéns, Pierre!
Muito, muito questionáveis (respeitosamente, mas também radicalmente) as opiniões e “princípios” do texto “Qual economia?” Em certa medida compreensível por ser um texto tão curto para um assunto tão extenso.
Muito bom , abrir diálogos sobre qual modelo de Economia poder trazer crescimento para o País e vida digna para todos.