Semana Nacional do Migrante 2023

De 18 a 25 de junho, ocorre a 38ª Semana Nacional do Migrante, promovida pelo Serviço Pastoral dos Migrantes, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (SPM/CNBB), juntamente com os demais serviços, organismos, entidades e atividades que trabalham no campo das migrações. Campo que, como sabemos, revela-se cada vez mais intenso, diversificado e complexo, devido, em particular, à violência política, ideológica e religiosa, à pobreza, miséria e múltiplas carências, bem como às catástrofes climáticas em suas manifestações extremadas.

Em sintonia com os debates relacionados à Campanha da Fraternidade deste ano, a Semana Nacional do Migrante tem como tema “Migração e segurança alimentar” e como lema “Para o migrante, a pátria é a terra que lhe dá o pão”. Esta frase é de São João Batista Scalabrini – considerado o pai e apóstolo dos migrantes – canonizado em outubro de 2022 pelo Papa Francisco e cujo aniversário de falecimento celebramos no dia 1º de junho.

Convém não perder de vista o nexo fundamental entre a vida e obra de Scalabrini e o surgimento da Doutrina Social da Igreja (DSI). Juntamente com os chamados “santos sociais” da segunda metade do século XIX, São João Batista Scalabrini faz parte de uma espécie de “precursores remotos” do Concílio Vaticano II, na medida em que eles abrem as portas da Igreja aos avanços, inovações e desafios do mundo moderno ou contemporâneo. Scalabrini funda a Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos) em 1887. Depois, funda a Congregação das Missionárias de São Carlos (Scalabrinianas) em 1895. Exatamente no meio desse intervalo de tempo – em 1891 – o Papa Leão XIII publica a carta encíclica Rerum novarum, documento inaugural da DSI.

Por volta da metade do século XX, surge o Instituto das Missionárias Seculares Scalabrinianas, com o mesmo carisma e missão: atuar junto aos migrantes e refugiados. Faz-se patente a convergência do nascimento da DSI e da obra de Scalabrini. Não será difícil concluir que a “questão social” no interior da Igreja é contemporânea da preocupação com as condições de vida dos emigrados em massa do Velho Continente, em grande parte devido às consequências da Revolução Industrial. Não será exagero afirmar que a Pastoral dos Migrantes emerge no bojo daquilo que chamamos Pastoral Social (ou Pastorais Sociais). Ambas são irmãs gêmeas.

Entre os desafios da DSI, podemos destacar a questão social, as relações entre capital e trabalho, o direito à organização dos trabalhadores, outros direitos inerentes à dignidade da pessoa humana, os deveres do Estado, a função social da propriedade, a preservação do meio ambiente, os milhões de migrantes em todo o mundo, e assim por diante. Deve-se essa nova consciência social a uma grande sensibilidade da Igreja para com os pobres, excluídos e vulneráveis. Desnecessário acrescentar que os migrantes figuram na lista dos mais abandonados e necessitados. As iniciativas vinculadas à Semana do Migrante procuram, justamente, sensibilizar os governos, a sociedade civil e a Igreja para o drama de tantos milhões de pessoas sem raiz, sem rumo, sem destino e sem pátria.

Padre Alfredo José Gonçalves, CS, pertence à Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos).

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