Sobre o terrorismo que destruiu templos católicos no Chile

Acordei com as cenas de uma igreja chilena ardendo em chamas. Em nome de ideologias, jovens terroristas punham fogo ao espaço sagrado, profanavam a beleza, queimavam a História, destruindo o que o esforço e os recursos dos fiéis construíram para a maior glória de Deus. Isso me causou, ao mesmo tempo, tristeza, dor, angústia, revolta.

Fundada nas Sagradas Escrituras, a Igreja construiu a civilização ocidental. E isso não é afirmação de fé, mas fato histórico. Ao difundir a fé herdada dos apóstolos, depositária absoluta, redesenhou o mundo, preenchendo o vácuo deixado pelo Império Romano, que caía; manteve a Filosofia Grega; aproveitou o Direito Romano; desenvolveu o método científico; fundou escolas, universidades e hospitais. Promoveu a caridade; valorizou o conhecimento; patrocinou as Artes e a Arquitetura. Deu-nos até o calendário que usamos. Sem ela, ninguém conheceria as Sagradas Escrituras e muitos não conheceriam o Cristo.

Hoje, cheio de ingratidão, o mundo ocidental lhe cospe à face, voltado contra Deus, com os mais fundamentais valores desfigurados, quase irreconhecíveis. Tudo por um ódio do que se pensa ter sido a Igreja. Um erro de percepção que remonta aos anos de sangue da Revolução Francesa, ou talvez um pouco antes. Ideologias aparentemente opostas acabam se unindo para agredir, moral ou fisicamente, a Igreja. Em parte, por intolerância, em parte por saberem que ela é, no mundo, o dique de contenção do mal, independentemente do nome moderno que lhe atribuam.

Pode-se ter ou não ter fé. Acreditar ou não acreditar em Deus. Gostar ou não gostar da Igreja. O que não se pode é desrespeitá-la, atacá-la, feri-la. Num tempo em que o exagero grita intolerância disto e daquilo, a única permitida, e até incentivada, é a que se exerce contra a Igreja, seus valores e a liberdade dos seus fiéis. O neomartírio é uma realidade. A cristofobia também. Ser cristão (católico) é agonizar. Originalmente, e disto o filósofo espanhol Miguel de Unamuno nos lembra, agonizar significa “lutar”. Lutar é viver. E o cristão é aquele que vive em contínua agonia, em luta permanente contra os inimigos da cruz. 

Estava triste pelo incidente; e um amigo veio me animar com as palavras de um livro de que gosto muito: O leopardo (1958), de Giuseppe Tomasi di Lampedusa. Vinham da parte em que Dom Fabrizio, aristocrata siciliano, que falava ao Padre Pirrone sobre a diferença da aristocracia e da Igreja como instituição, diante dos ataques revolucionários que ambas sofriam na Itália em formação, nos idos de 1860:

“Não somos cegos, caro Padre, somos apenas homens. Vivemos em uma realidade movediça, à qual tentamos nos adaptar assim como as algas se dobram sob o impulso do mar. À Santa Igreja a imortalidade foi prometida explicitamente; a nós, como classe social, não. Para nós, um paliativo que prometa durar cem anos equivale à eternidade. Podemos até nos preocupar com nossos filhos, talvez com nossos netos; mas, para além do que podemos acariciar com nossas mãos, não temos compromissos; e eu não posso me preocupar com os meus eventuais descendentes em 1960. A Igreja, sim, precisa cuidar disso, porque está destinada a não morrer. Em seu desespero, o conforto é implícito”.

Texto consolador e inspirador para este momento, não? E como não lembrar do que nos disse o Senhor a respeito de o inferno jamais prevalecer sobre sua Igreja? As dores de hoje, de ontem e de amanhã são nada diante da certeza do triunfo.

Nem por isso, porém, os católicos devem deixar de reclamar direitos, exigir respeito e defender a fé, a identidade e a dignidade da Igreja. Deus não colocou a Sagrada Família em lugar seguro por um passe de mágica. Mandou o anjo acordar José e pô-lo em marcha com Maria e o Menino Jesus até o Egito. Deus conta com o nosso empenho, com o nosso ardente desejo do sobrenatural no plano natural. Com as armas da fé, da esperança e do amor, temos de rezar pela conversão dos terroristas. Mas ainda exigir justiça e punições rigorosas.

Façamos nossa parte e confiemos no Senhor.

Paulo Henrique Cremoneze, advogado, mestre em Direito Internacional pela Universidade Católica de Santos (SP), especialista em Direito do Seguro pela Universidade de Salamanca, na Espanha, pós-graduado em Especialização Teológica pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora Assunção e vice-presidente da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp).

1 comentário em “Sobre o terrorismo que destruiu templos católicos no Chile”

  1. Parabéns ao Dr Cremonezze pela lucidez.
    Os absurdos praticados devem ser mensal combatidos com veemência. Lutemos pela fé e pela defesa dos valores divinos!

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