Li outro dia uma coluna que comentava o divórcio de um casal conhecido na TV, após oito anos de união. A notícia passaria batido, tantos são os anúncios de uniões e separações entre artistas, mas essa me chamou a atenção por um motivo relevante: ela queria ter filhos (até por conta da idade), mas ele não. O argumento dele: temia que filhos pudessem atrapalhar a harmonia do casamento.
A colunista explora mais esse último ponto, indicando experiências que todo casal com filhos conhece. De fato, criá-los exige energia e desprendimento, e modifica a rotina do casal. Mas a lição por ela tirada é algo conformista: “Olhar para o lado e não admirar seu sócio vitalício no empreendimento que toma 24 horas por dia de sete dias na sua semana é frustrante demais”. E ela conclui, dizendo que os dois mencionados “tomaram o terceiro caminho: se separaram antes de um ficar frustrado por ceder e ter um filho ou de outra ficar frustrada por ceder e não ter um filho”.
Será que não há um quarto caminho que não seja um ficar frustrado por conta da decisão do outro? E pior, separar-se por conta disso? A única coisa inquestionável que a colunista fala é que, caso todos decidissem não ter filhos, “a humanidade teria acabado há tempos”. Mas o argumento não deve ser de muita serventia para os casais. A mensagem da colunista parece ser: “só tenha filhos depois de muito raciocínio, conversa e consentimento mútuo”. A decisão de tê-los ficou parecida com a de fazer um investimento: só na ponta do lápis. Se no passado os filhos vinham meio que sem controle do casal, a condição hoje é a oposta: planejamento total, gratuidade zero.
Espanta-me a naturalidade com que todas essas coisas sejam ditas. No fundo, há uma concepção de amor por detrás de tudo isso: amor romântico, curtição, paixonite, gostar um do outro. Quanto menos surpresas, melhor. Mas o amor que o Cristianismo proclama vai muito além disso. Trata-se do Ágape, do amor ao próximo, da abertura incondicional ao outro. Sim, isso significa “24 horas por dia, sete dias por semana”, mas esse é o caminho para o cêntuplo, para um amor que enriqueça a si e todos ao redor. Trata-se da adequada imitação – “amai-vos um aos outros como eu vos amei” –, mas principalmente como graça, vinculada à fé e à esperança. Amamos porque somos amados.
Para que essa percepção da gratuidade e da riqueza que os filhos representam volte a ser como que natural para nós, um longo processo reeducativo se torna necessário, principalmente por meio do testemunho ativo dos casais cristãos. Sem esse testemunho, a própria noção do casamento fica desfigurada (“casar para quê?”), as separações aumentam e o número de crianças diminui – que mundo infeliz esse preparado pelos adultos de hoje!
Eduardo Rodrigues da Cruz é professor titular do Departamento de Ciência da Religião da PUC-SP, tendo graus avançados em Física e Teologia; publicou extensamente sobre o relacionamento entre ciências naturais e fé cristã.
De início achei que seria perder meu tempo lendo o texto a partir do título ou do primeiro parágrafo. Mudei de ideia e percebi o quanto os “conceitos básicos” da família ( cristã ou não) estão corrompidos. Qual testemunho deve ser passado? Conceituar família, ter filhos, amar….? O Cristianismo, o Filho do Deus feito Homem, a Igreja não precisa de defensores, nem de proselitismo ( o que mais se faz), mas de testemunhos e de pais que “estando abertos à viva” percam a vida, amando seus filhos. Um de meus filhos tem oito…….