‘Os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem’

No templo, Cristo foi interrogado por alguns chefes dos sacerdotes e anciãos que, sem acreditar na Sua pregação e na de João Batista, queriam saber com que autoridade realizava tantas obras. Vendo que O colocavam à prova, tendo o coração fechado à verdade, o Senhor lhes deixou sem resposta e propôs-lhes esta parábola.

Um pai pediu a cada um de seus dois filhos: “Vai trabalhar hoje na vinha”. O primeiro respondeu com franqueza: “Não quero”. Porém, mais tarde, sentiu remorso e acabou obedecendo. O segundo respondeu com solicitude e respeito: “Sim, senhor, eu vou”. Contudo, não foi. Sabemos por experiência pessoal a decepção causada por pessoas que dizem ‘já vou, já vou’ e não fazem nada; ou que formulam belas promessas, mas, na hora da necessidade, desaparecem…

Para capturar os interlocutores no próprio erro, Jesus perguntou qual dos dois fez a vontade do pai. A resposta óbvia – “o primeiro” – constituía, na boca dos chefes e dos anciãos, uma autocondenação. Esses homens eram ciosos da Lei de Moisés, jactavam-se por pertencer ao povo eleito, ocupavam funções importantes na comunidade de Israel… Porém, agora que estavam finalmente diante do cumprimento das promessas divinas – na presença do Messias –, recusavam-se a acreditar e a se converter!

Com belas palavras nos lábios e com costumes “respeitáveis”, cometiam uma impostura irremediável, pois eram incapazes de obedecer. Eram os “senhores” da própria vida! Apesar da aparência de “reverência”, a religião era para eles um ganha-pão, meio de projeção social, e não um exercício de humildade e obediência. Não à toa, o segundo filho da parábola chama o pai de “senhor”… É um lembrete de que “Nem todo aquele que diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no reino dos Céus, mas, sim, aquele que pratica a vontade do Pai que está nos Céus” (Mt 7,21). Não é sincera uma religiosidade que não visa ao conhecimento e à prática da vontade de Deus na existência cotidiana.

Para alertar sobre a contradição de suas vidas, o Senhor profere palavras tão duras quanto verdadeiras: “Os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus”. Não se trata aqui de concessão ao pecado destes últimos. Vendo as obras e a pregação de João e de Jesus, muitos deles haviam acreditado e se convertido sinceramente. É o caso, por exemplo, do publicano Mateus, que se tornaria Apóstolo e Evangelista. Afinal, “quando um ímpio se arrepende da maldade que praticou e observa o direito e a justiça, conserva a própria vida. Arrependendo-se de todos os seus pecados, com certeza viverá; não morrerá” (Ez 18,27-28).

Os chefes e anciãos, ao contrário, mesmo conhecendo o Precursor e o Salvador, “não se arrependeram para crer” (Mt 21,32). Fazendo promessas de fidelidade e levando o nome “Senhor” na boca, não realizaram o mais importante: crer, converter-se e obedecer. Que Deus nos conceda uma piedade sincera, acompanhada do cumprimento dos Seus Mandamentos e de nossos deveres de estado!

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