Os dons do Espírito Santo

As almas santas são como um veleiro. Nessa embarcação, o emprego da inteligência e da dedicação do piloto são necessários. A sua grande força motriz, porém, é externa: o vento. É preciso saber reconhecê-lo, para desfraldar, recolher e direcionar as velas no tempo certo. Também na vida espiritual, o grande Agente da santificação é o Espírito Santo. A “vela” por meio da qual Ele nos leva adiante são os seus sete dons: “O vento sopra onde quer, e ouves o seu ruído, mas não sabe para onde vai; assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito Santo” (Jo 3,98).

Os ‘dons’ são sete disposições habituais da alma em estado de graça que somente podem ser reconhecidas e cultivadas por meio da oração. Eles se encontram em plenitude na alma de Cristo: “Repousará sobre Ele o Espírito do Senhor: espírito de sabedoria e entendimento; espírito de conselho e fortaleza; espírito de ciência e piedade; e o preencherá o espírito de temor do Senhor” (Is 11,2-3). Nós, batizados, os recebemos por participação na vida de Jesus. Não se trata de uma simples “ajuda” divina; os sete dons predispõem de tal modo nossa vontade e inteligência que permitem que Deus aja por meio de nós.

O ‘menor’ dom é o santo temor, enquanto o ‘maior’ é a sabedoria: “O início da sabedoria é o temor de Deus” (Eclo 1,16). O temor leva-nos à adoração a Deus e a decidirmos com todas as forças evitar ofendê-lo. Ajuda-nos a viver a temperança e a refrear os desejos desordenados. Ao temor se une a piedade, que nos faz ver o Senhor como um Pai amoroso e prestar-lhe um culto constante e confiante. A prática do bem e da religião seriam impossíveis sem a fortaleza. Esse dom nos encoraja nas dificuldades e nos dá paciência nos sofrimentos; graças a ele, nos tornamos uma ‘boa terra’ que “dá frutos por meio da paciência” (Lc 8,15).

Os dons do Espírito Santo atuam também no intelecto. O dom do conselho faz-nos julgar corretamente os atos próprios e alheios e intuir o bem a ser feito em cada situação: “Não sois vós que falareis, mas o Espírito do vosso Pai” (Mt 10,20). O dom da ciência nos impele à esperança na vida eterna, pois permite enxergar todas as criaturas na sua correta relação com Deus-Criador, preservando-nos da avareza, da gula e da sensualidade. O dom do entendimento atua sobre a fé, permitindo-nos penetrar aguçadamente nas verdades da Escritura e do Catecismo e aderir a tudo aquilo que Deus revelou. A sabedoria, enfim, consiste na contemplação pacífica, saborosa e repleta de amor das coisas divinas. Trata-se de um prelúdio do Céu.

Todos esses dons provêm do amor, pois o Espírito Santo é o Amor substancial de Deus. São-nos dados pelos sacramentos, cultivados pela oração e se perdem sempre que cometemos um pecado mortal. São mais valiosos do que o dom de línguas ou a profecia, pois são necessários para a salvação. Na festa de Pentecostes, imploramos ao Senhor que no-los conceda: “Dai aos fieis que em Vós confiam os sete dons sagrados” (Sequência).

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