Os pecados contra o Espírito Santo

As Escrituras nos deixaram um grande número de belíssimas e reconfortantes falas e promessas de Nosso Senhor: “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei (…), porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas” (Mt 11,28-29); “Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Mt 9,13), entre outras tantas. Mas há também algumas outras passagens em que Ele assume um tom diferente: nos adverte sobre o risco das trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes, expulsa energicamente os vendilhões do Templo…

Não podemos cair na tentação de varrer essas passagens para debaixo do tapete, como se o Jesus que as disse fosse uma pessoa diferente do Jesus poético que fala dos lírios do campo. Nosso Senhor não tinha uma personalidade fragmentada: era amoroso sempre, mesmo quando nos dirigia palavras exigentes – assim como é o amor que move um pai ou uma mãe a advertir seriamente o filho sobre os perigos das más companhias. O que precisamos, sim, fazer, é entender bem o sentido dessas passagens – e hoje queríamos meditar sobre a de Mt 12,31: “Todo o pecado ou blasfêmia será perdoado aos homens, mas o pecado contra o Espírito não lhes será perdoado”.

O que é, afinal, o pecado contra o Espírito Santo? O Catecismo da Igreja Católica (CIC) nos ilumina ao lembrar que, embora a misericórdia de Deus não possua limites, “quem recusa deliberadamente receber a misericórdia de Deus, pelo arrependimento, rejeita o perdão dos seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo”, o que “pode levar à impenitência final e à perdição eterna” (CIC 1864).

O tema já havia sido explorado pelo Catecismo de São Pio X, em que o Papa listava seis pecados contra o Espírito Santo, assim chamados por serem “cometidos por pura malícia, que é contrária à bondade, o atributo especial do Espírito Santo”, a saber: (1) desesperar da salvação; (2) presumir que se vai ser salvo sem mérito; (3) opor-se à verdade conhecida; (4) invejar as graças alheias; (5) permanecer obstinadamente no pecado; e (6) a impenitência final.

desespero da salvação consiste em pensar que o meu pecado é tão grande que nem a Divina Misericórdia é capaz de perdoá-lo. No fundo, é um tipo de orgulho, que se acha maior que Deus – foi o pecado de Judas.

É verdade que hoje em dia este pecado é bem raro – mas seu oposto, a presunção, tende a aparecer em alguns lugares. Ela consiste em distorcer o amor e a misericórdia de Deus, e assim pensar que Deus jamais me condenaria ao inferno, mesmo que eu não lute pela conversão, apoiado na ajuda da graça. Deus é um Pai Amorosíssimo, não um tiozão bonachão que, numa falsa noção de amor, estraga seus sobrinhos ao deixá-los crescerem como pequenos tiranos egoístas – Ele é Bom (é a própria Bondade), não “bonzinho”.

oposição à verdade conhecida é o pecado de quem se recusa a aceitar uma verdade de fé confiada por Deus à sua Igreja, mesmo depois de ser advertido. Quem diz, “eu sou católico”, mas relativiza a sacralidade da vida humana em todas as suas fases, a indissolubilidade do Matrimônio, ou ainda, os deveres do cidadão para com a sociedade oriundos da virtude da justiça pode estar caindo neste pecado.

inveja das graças alheias é o que fez com que Caim, extremamente irritado de semblante abatido pelo agrado que Deus teve da oferta de Abel, emboscasse e matasse seu próprio irmão, e depois ainda respondesse zangado a Deus que lhe perguntava por seu paradeiro: Não sei! Por acaso eu sou o guarda do meu irmão? (Gn 4,3-9).

obstinação no pecado é o que acontece com quem decide continuar vivendo no erro, mesmo depois de receber as luzes do Espírito Santo para a conversão: “Quem é a Igreja para me dizer o que eu devo ou não fazer com minha vida? Se o que faço me faz sentir bem, vou continuar fazendo, mesmo que Deus tenha dito à Igreja que isso me afasta Dele”.

impenitência final, por fim, é a consequência de uma vida levada longe de Deustal vida, tal morte.

Deus, Nosso Senhor, é bom, e nos ama de verdade – mas justamente por isso, ele não vai nos amarrar e forçar-nos a amá-lo de volta. Usemos de nossa liberdade com responsabilidade, e não contristemos o Espírito Santo (cf. Ef 4, 30)!

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