Outubro missionário

Padre Alfredo José Gonçalves, CS

Sergio Ricciuto Conte

A palavra missão comporta dois sentidos ligeiramente diversos, mas convergentes e complementares. Por uma parte, representa um trabalho preciso e específico, com princípio e fim determinados. Por outra, tem a ver com a razão de ser primordial de muitos movimentos, pastorais, instituições e entidades. Quando afirmamos que “tal missão foi cumprida”, temos como referência o primeiro caso. Quando perguntamos, entretanto, pela missão desta ou daquela organização, está em jogo o segundo caso. Um tende a ser uma fase ou trampolim para o outro.

Evidentemente que numerosos empenhos, localizados no tempo e no espaço, e denominados em geral com o termo de missão no sentido estrito, figuram não raro como etapas da missão em seu sentido mais amplo. Os limites entre missão/tarefa e missão/processo são fluídos, porosos e se entrelaçam reciprocamente. Ao celebrar outubro como Mês das Missões, entram em jogo serviços imediatos e pontuais; mas estes, por sua vez, quase sempre se encontram inseridos na missão permanente do processo de “Igreja em saída”, proposto com insistência pelo Papa Francisco.

De uma forma ou de outra, trata-se de sair de si mesmo, sair da exclusividade do núcleo familiar, sair dos templos e sacristias, sair de certos modelos hoje residuais – em favor da iniciativa que veio a ser chamada de “nova evangelização”. Esta consiste em um movimento centrífugo em direção às ruas, aos bairros, aos porões e às periferias, numa Igreja que, a exemplo de Jesus, “percorria todas as cidades e povoados”, caminhando ao encontro das “multidões cansadas e abatidas” (Mt 9,35-38). Daí nasce e se desenvolve tanto a sensibilidade e a compaixão diante do caído à beira da estrada quanto a prática pastoral viva, ativa e eficaz.

Existe, porém, outra forma de pensar a missão, e no interior dela contemplar os desafios sociais do tempo em que nos movemos, marcados por vírus, vícios e violência. Trata-se da realização da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe. Em lugar de um evento que reúne os bispos como representantes, o processo se abre à participação dos leigos e leigas, pastorais e movimentos, bem como paróquias e comunidades e dioceses. A assembleia em curso se configura como uma experiência sinodal inovadora de escuta, diálogo e encontro. O termo sínodo, de resto, tem sua origem no idioma grego synodos e quer dizer “caminhar juntos”. A sinodalidade está ligada ao conceito da Igreja como povo de Deus, forjado pelo Concílio Vaticano II.

À luz da Palavra de Deus, dos documentos conclusivos de Medellín, Puebla, Santo Domingos e Aparecida, como também do magistério do Papa Francisco, pretende-se aplicar o método Ver, Julgar e Agir sobre a realidade dos nossos povos e culturas. Ao aprofundar essa realidade, emergem os problemas e desafios que afligem especialmente as populações vulneráveis, nas quais a vida se encontra mais ameaçada. O resultado desse processo de escuta, ao mesmo tempo, deve ajudar a buscar alternativas conjuntas para todo o continente, tanto em termos locais quanto globais.

Padre Alfredo José Gonçalves, CS, pertence à Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos).

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