Pais, não ‘apequenem’ seus filhos

Hoje assistimos, com muita preocupação, um movimento estranho na relação entre pais e filhos. Um movimento que, ao contrário do que se espera desse vínculo, leva as crianças a permanecerem imaturas, pouco aptas a pequenos desafios cotidianos.

Sei que os pais querem o melhor para seus filhos, aliás, tenho certeza disso. No entanto, identificar esse melhor parece ser uma tarefa cada vez mais difícil para a maioria.

Crianças precisam aprender. Aprender o quê? Absolutamente TUDO. Elas nascem inaptas, imaturas em todos os sentidos e aspectos, incapazes de se manterem vivas. Cabe aos pais mantê-las vivas e ensiná-las a viver.

Quanto antes os pais perceberem a importância de uma interação que suscite esse crescimento nos filhos, melhor. Quanto antes se conscientizarem de que as características que observam em seus filhos não estão aí para serem simplesmente aceitas, mas, sim, para serem trabalhadas, melhor para as crianças.

Ouço muitos pais dizendo: “Eu ofereço brincadeiras, mas eles desistem logo”; “Minha filha dormia sozinha desde pequena, agora está chorando muito e não quer ficar no seu quarto sozinha”; “Todos estão com o celular brincando, como vou dizer para o meu filho que não quero que ele brinque?”; “Não tiro meus filhos da rotina por nada, eles ficam irritados”.

Bem, seriam inúmeros os exemplos possíveis, mas vou me limitar a esses colocados acima. Diante deles, eu me pergunto: onde está a capacidade adulta de envolver a criança na brincadeira, de ensiná-la a permanecer, a descobrir prazer, a manter-se na atividade? Será que não estamos, nós mesmos adultos, pouco envolvidos e interessados e, por isso, não conseguimos atrair nossos filhos à permanência?

E a criança que passa a chorar à noite em determinada fase da vida, será que não podemos compreender esse movimento como algo próprio do desenvolvimento humano, tentar identificar o que a aflige e criar estratégias para ajudá-la a se sentir novamente capaz de dormir sozinha?

Não seria possível aos pais resistirem à frustração de seu filho ser o único a não “brincar” com o celular, mesmo sabendo que tal sentimento irá fazê-lo aprender algo tão importante? Pensam os pais que essa criança não resistirá a essa frustração, não conseguirá manter amizade com os outros se não fizer o que todos fazem, mas será ela tão vulnerável assim? E o que os pais oferecem de alternativas interessantes no lugar desse entretenimento nocivo aos pequenos? Hoje, trata-se de uma questão de saúde inquestionável não oferecer açúcar aos filhos até os 2 anos de idade. No entanto, não se nega algo que, arrisco dizer, é muitíssimo pior do que o açúcar: as telas de modo indiscriminado.

Papais e mamães, prestem atenção: as crianças precisam de rotina, sem dúvida alguma. E precisam, também, de momentos de quebra de rotina: fazer uma soneca no trânsito ou num local desconhecido, dormir mais tarde quando há uma festa de família etc. Sim, ficarão mais chatos e irritadiços nesse dia, mas aprenderão muito com isso, irão ganhando flexibilidade e capacidade de adaptação. Percebo claramente que os pais, ao manterem tão rígida a rotina das crianças, estão muito mais evitando dificuldades para si mesmos do que pensando no bem dos pequenos. Afinal, criança chata, irritada, dá mais trabalho. Mas não esqueçam, papais e mamães: não ensinar determinadas coisas aos pequenos somente transfere a dificuldade para mais tarde, não a elimina.

Além disso, isso não oferece ao seu filho a oportunidade de enfrentar essas “novidades” e aprender a lidar com elas.

Muitos pensam: eles aprenderão com o tempo, ainda são pequenos.

Leiam atentamente o que escrevo aqui: crianças precisam de hábitos para aprender. Elas precisam de estímulos e oportunidades, precisam de pais que apostem em suas capa- cidades e deem suporte nas dificuldades. Assim, estarão com o terreno trabalhado para as aprendizagens necessárias. No entanto, infelizmente o que mais vejo hoje são pais que em vez de prepararem seus filhos para o mundo, esperam que o mundo se adapte às possibilidades de seus filhos. E o pior: não percebem que os mais prejudicados serão os filhos; afinal, pessoas são feitas para crescer, para superar dificuldades, para voar alto. Porém, sem a oportunidade para isso, ficarão “apequenados”, não aproveitarão o potencial que têm.

Leiam este alerta que faço com todo o carinho e reflitam: na sua casa, como estão ajudando os seus filhos a aproveitarem o enorme potencial que têm?

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