O brutal assassinato de Charlie Kirk, por um tiro de fuzil no pescoço, em frente a uma plateia de centenas de universitários, representa um sinal alarmante da degradação da vida pública em nossos tempos. A tragédia, que por si só já é dolorosa e grave, tornou-se ainda pior diante da reação de centenas de pessoas, nas redes sociais, que não hesitaram em comemorar (!) o crime. Multiplicaram-se frases como “foi tarde” ou “um a menos”. Até mesmo no Brasil, alguns tiveram a pachorra de declarar (publicamente, e por escrito!), coisas do tipo, “eu amo quando fascistas morrem em agonia”. A frieza com que foi celebrado o assassinato de um marido e pai de família, que não havia cometido ato de violência algum, e estava simplesmente discutindo suas ideias em um espaço, revela até que ponto se perdeu a sensibilidade diante da vida humana, transformando o outro em um inimigo a ser eliminado. E este episódio não é um caso isolado: é a ponta visível de uma crise mais ampla que atravessa o mundo.
De fato, não são raras as notícias de atentados contra líderes políticos, bem como de episódios de hostilização pública em que vozes discordantes são caladas. O mesmo espírito de exclusão se manifesta também nas universidades de nosso país, nas quais deveria reinar o livre debate de ideias. Cada vez mais, vemos notícias de eventos acadêmicos que têm de ser cancelados após os convidados serem recebidos com gritos, piquetes e empurra-empurra, que impossibilitam qualquer diálogo. O que deveria ser espaço de escuta e confronto respeitoso de argumentos converteu-se em palco de hostilidade, em que não se admite sequer ouvir a palavra do outro.
Por trás desse clima, encontra-se uma retórica corrosiva, que se alimenta de rótulos lançados como armas. Multiplicam-se termos como “fascista”, “nazista”, “genocida”, “golpista”, “opressor”, “extremista”. Quando empregados de maneira indiscriminada, deixam de designar características objetivas, existentes no mundo real, e passam a funcionar apenas como xingamentos, expressivos da rejeição sentimental, a priori e absoluta. Não descrevem, mas estigmatizam; não convidam ao debate, mas o interditam; não abrem caminhos de entendimento, mas erguem muros de inimizade.
O problema se agrava quando essa linguagem não fica restrita a conversas privadas, mas é amplificada pela grande mídia e por personalidades públicas. Palavras que deveriam informar ou argumentar passam a inflamar os ânimos, reforçando caricaturas e abrindo espaço para que ouvintes mais frágeis ou desequilibrados se sintam autorizados a transformar hostilidade verbal em violência física. O assassinato de Charlie Kirk é um exemplo trágico do que acontece quando a palavra se torna combustível para o ódio.
A fé cristã, no entanto, nos recorda um horizonte mais alto. Para o Evangelho, cada ser humano, independentemente de suas ideias ou posições, possui uma dignidade inalienável, por ter sido criado à imagem de Deus. O próprio Cristo advertiu que, para se tornar um assassino, não é preciso efetivamente pegar em armas: basta desejar o mal no coração, e já se comete o homicídio (cf. Mt 5,21-22). Mais ainda: “A boca fala do que o coração está cheio” (cf. Lc 6,45). A violência da palavra é reflexo da violência interior, e cedo ou tarde transborda em atitudes concretas.
Diante disso, urge recordar nossa responsabilidade. As palavras têm peso, moldam ambientes, preparam caminhos. Podem edificar a paz ou alimentar a discórdia. O discípulo de Cristo é chamado a ser sempre semeador de reconciliação, construtor de pontes, testemunha de uma fraternidade capaz de superar as diferenças.
Que o sangue derramado neste crime brutal nos sirva de alerta. É tempo de nos afastarmos da lógica do ódio e nos tornarmos, cada um de nós, instrumentos de paz. Porque a palavra, quando usada sem responsabilidade, mata; mas, quando enraizada no amor, é capaz de curar, reconciliar e abrir horizontes de esperança.
E aqui vale recordar as palavras de Cristo: “Bem-aventurados os promotores da paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9).