Muito embora atualmente a participação de pai e mãe seja bastante grande na vida e na formação dos filhos, e isso seja muitíssimo bom, é importante que tenhamos clareza das características próprias do vínculo e papel maternos e do vínculo e papel paternos no processo de crescimento dos filhos. Diferentemente do que se preconiza, não se trata de diferenças estritamente culturais; ao contrário, são características enraizadas nos diferentes modos de ser – o masculino e o feminino.
O papel do pai e da mãe são complementares, são movimentos e abordagens diferentes que dão equilíbrio para que o filho cresça em todo o seu potencial.
As distinções culturais não são aleatórias. Elas se assentam nas características e peculiaridades próprias do corpo e da alma masculina e feminina. No entanto, cabe dizer que não se trata de características rígidas, a beleza está exatamente na capacidade de adaptação que promove a complementaridade de ambos.
Vamos avaliar melhor como cada um se insere na vida da criança: a mãe e a criança têm uma ligação insuperável, afinal, desde o primeiro momento da vida, a criança se encontra dentro do corpo materno. A mulher, que recebe a criança no ventre, se une corporal e animicamente a ela pelo longo período de 9 meses, vai formando um laço estreitíssimo com o pequeno ser. Isso se dá de tal modo que, ao nascer, o bebê se sente absolutamente seguro e amparado na presença da mãe – seu cheiro, seu batimento cardíaco, os sons de seu corpo, seus movimentos e sua voz – são conhecidos do pequeno. A mãe, por seu lado, vai ao longo da gravidez sofrendo todo um processo de adaptação corporal, afetiva, psíquica para poder suprir as necessidades do pequeno ser, mesmo depois que ele nascer. O papel materno está bastante relacionado ao útero: acolher, proteger, oferecer conforto… enfim, suprir as necessidades básicas não somente corporais, mas também afetivas.
O papel paterno está mais relacionado à abertura da criança para o mundo, à socialização – o pai, ao entrar no vínculo com a criança, rompe a simbiose mãe/bebê e mostra que o mundo vai além dela e da mãe. O pai representa a lei. Aquele que determina e arbitra sobre as decisões mais importantes, que orienta o filho para além do espaço seguro do lar. Ele estimula o filho para a exploração, para ir ao mundo, para se aventurar: “Filho você consegue, estou com você”. O pai empurra para fora da zona de conforto, mas cuida para que os riscos não extrapolem a capacidade da criança.
Hoje, no entanto, nossa sociedade vive uma crise de autoridade – ninguém quer ocupar esse papel de lei, bem como ninguém quer ser submetido à lei. Nesse imbróglio social, muitas mães se adiantam em “proteger” os filhos dos próprios pais – “Não fale assim com ele, você está sendo muito exigente, não brinque desse modo”. Querem colocar seu modo de atuar e de se relacionar com os filhos como o modelo adequado, de modo que o parceiro somente será “bom pai” se agir como ela indica.
Lembrem-se: no equilíbrio entre os papéis está a boa formação dos filhos. Na diversidade de modos de chegar aos mesmos objetivos, os pequenos encontrarão modelos para se identificarem, comportamentos para aprenderem, encontrarão onde aprender de modo claro sobre o universo feminino e o masculino, condição tão importante e tão desprezada atualmente.
Não se trata aqui de estimular comportamentos machistas, violentos nem inadequados, mas de entendermos que, segundo nossa natureza humana, em sua manifestação masculina ou feminina, trazemos em nosso ser uma tendência natural e saudável. Um modo de ver o mundo, de atuar e de se posicionar que tem sua importância na preservação da espécie. Claro que todos, pais e mães, podemos melhorar, aperfeiçoar-nos, oferecer-nos de modo mais integral para nossos filhos, mas isso não significa sermos iguais, atuarmos de modo igual, afinal, desde sempre somos diferentes e, no papel de pai e mãe, também o seremos. A mesma responsabilidade, a mesma missão, os mesmos objetivos, no entanto, modos muito pessoais de realizá-los.