Para que todos sejam um

Se quiséssemos resumir toda a mensagem do Cristianismo em uma ou duas frases, poderíamos talvez dizer que todo o universo é criação de um Deus que, transbordando de amor, quis convidar suas criaturas para participar de sua alegria, unindo-se a Ele por meio de seu Filho, Jesus. De fato, Cristo assumiu um corpo humano no seio de Maria para que cada um de nós homens pudesse ser salvo, fazendo-se membro deste corpo, por meio do Batismo: “Pois todos sois um em Cristo Jesus” (Gál. 3,27-28; cf. 1Cor 12,12-27). Este corpo místico que une cada um dos batizados a Jesus Cristo, como cabeça, nós costumamos chamá-lo Igreja (do grego Ecclesia, “convocação”), una, santa, católica e apostólica! Quando entendemos bem o papel da Igreja no plano divino, fica fácil perceber o quanto precisamos velar por sua unidade: as rixas e dissensões entre cristãos são como que desmembramentos do corpo do próprio Cristo!

Ciosa desta sua responsabilidade, a Igreja sempre reconheceu três “vínculos de unidade” ou “laços visíveis de comunhão” que a tornam una: a doutrina de fé, os sacramentos e a comunhão com o governo eclesiástico. Em outras palavras, em meio ao turbilhão deste mundo, só se conserva na barca segura da Igreja quem guarda a “fé recebida dos Apóstolos”, preserva a “vida sacramental integral”, especialmente na Sacratíssima Eucaristia, e presta respeito e obediência aos legítimos sucessores dos Apóstolos, os bispos em comunhão com o Romano Pontífice (cf. Catecismo, nn. 815, 830, 837).

Estes critérios são ensinados não apenas pelo Concílio Vaticano II – que reconhece os “laços da profissão da fé, dos sacramentos, do governo eclesiástico e da comunhão” (Lumen gentium n.14; cf. Unitatis Redintegratio n.2) –, mas também por toda a Tradição. São João Bosco, por exemplo, definia a Igreja como “a congregação dos que professam na íntegra a fé e a doutrina de Jesus Cristo, e respeitam a autoridade do Soberano Pontífice, constituído pelo mesmo Jesus Cristo como vigário e supremo Chefe invisível da Igreja” (Compêndio de História Eclesiástica), e o Catecismo de S. Pio X definia o verdadeiro cristão como “aquele que é batizado, crê e professa a doutrina cristã e obedece aos legítimos Pastores da Igreja”.

Hoje em dia, no entanto, esta sagrada unidade da Igreja vem sendo ameaçada por dois tipos de erros, opostos e graves. Por um lado, há alguns grupos que pretendem conservar a “Tradição” sem reconhecer a autoridade dos legítimos pastores, recaindo num “tradicionalismo” distorcido e protestantizado. Por vezes, chega-se até o absurdo de negar a autoridade do próprio Papa, num sedevacantismo que esvazia a promessa do próprio Cristo à sua Igreja: “Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Tanto Lutero quanto São Francisco de Assis enxergavam que a Igreja passava por maus bocados – mas um deles rebelou-se contra a hierarquia e fundou uma nova religião, ao passo que outro aceitou sofrer com e pela Igreja, e iniciou um movimento de santidade que mudou o mundo.

Por outro lado, é igualmente equivocado valorizar exclusivamente a “comunhão eclesial” como se ela fosse a única coisa que definisse o pertencimento à Igreja, independentemente da fidelidade ao depósito da fé recebido dos Apóstolos. Aqueles nove leprosos que foram curados de sua doença enquanto caminhavam juntos até o sacerdote estavam tão centrados em sua própria euforia que se esqueceram de Jesus, a razão de sua salvação! Talvez o décimo leproso, samaritano, ficasse tentado a continuar o caminho com eles, mas ele, sabiamente, preferiu voltar sozinho até Jesus – e sua atitude lhe mereceu o elogio do Mestre: “Tua fé te salvou” (cf. Lc 17,11-19). Já no século II, Santo Irineu de Lião, sucessor de São João Evangelista, ensinava que a fé recebida dos Apóstolos era conservada incorrupta “por todo o mundo até aos confins da terra” – e daí vinha a autoridade da Igreja (cf. Catecismo, nn. 172-174).

Sejamos, então, católicos! Permaneçamos na barca de Pedro, sempre em comunhão com o Santo Padre, os legítimos pastores, e firmes na única fé conservada incorrupta desde os Apóstolos!

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