‘Partiu para um lugar distante’ (Lc 15,13)

4º DOMINGO DA QUARESMA 27 DE MARÇO DE 2022

Em que consiste a distância dos outros e de Deus? Jesus conta a história do homem que tinha dois filhos. O mais jovem pediu a herança antecipada e “partiu para um lugar distante”. O mais velho permaneceu fisicamente próximo, em casa, onde trabalhava no campo e obedecia ao pai (cf. Lc 15,13-29).

Depois de insucessos e de uma terrível carestia, o mais novo decidiu voltar para casa. Não tanto pelo pai, mas pela comida! Sonhava ser “como um dos empregados” para comer abundantemente. O mais velho permanecia trabalhando, também como os empregados. Sentia, contudo, uma inconfessável tristeza. Não porque o pai fosse mau ou ausente; nada lhe faltava, mas jamais pudera oferecer um cabrito aos amigos.

Um andava por terras longínquas, o outro passava o dia todo no campo… Ambos, porém, viviam distantes do pai. A distância física pode até nos aproximar, quando nos leva a pensar uns nos outros e a viver melhor a comunhão dos santos. Até a distância da morte nos avizinha, quando temos fé, amor e rezamos pelos falecidos. Neste caso, como diz São Paulo, “estamos longe dos olhos, mas perto do coração” (1Ts 2,17)! Mas a distância que separava estes filhos do pai era a falta de afeto.

Não haveria distância se, partindo para buscar um ideal, tivessem se despedido calorosamente, levassem a bênção do pai e uma recordação, e permanecessem unidos de coração… Se fossem gratos por ter um pai, se buscassem a união da família, se orassem uns pelos outros… O pai, assim, teria saudades, mas não inquietação e tristeza. Os filhos, contudo, tinham o coração na “herança” e no “campo”. Pensavam nos bens, não na família. A distância mais difícil de se superar é a do coração! É possível dividir o teto com o pai, esposa, filhos, irmãos, e, sem se dar conta, “partir para um lugar distante”. O mesmo pode ocorrer na relação com Deus. Há quem o abando- ne, distanciando-se da Igreja, sua casa. Mas há também quem, permanecendo formalmente nela, deixa o coração esfriar com indiferença, afundando-se nas coisas materiais e no pecado.

Outros têm sede de “graças”, mas se esquecem de Deus, não o amam como Pai!

O pai da história soube superar a distância. Quando o filho “ainda estava longe”, sem cálculos, “avistou-o e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos” (Lc 15,20). É isso que Deus nos faz na Confissão: abrevia a distância! Beija-nos, abraça-nos e vem melhorar nossas disposições. Ele se alegra, reveste-nos com a túnica da graça, com o anel de sua Aliança e sandálias para melhor servi-lo.

Peçamos ao Senhor que “quebre”, nesta Quaresma, a distância que possa haver em nós! Que nos retire da “terra distante” da tibieza e da indiferença que talvez nos separe Dele e dos homens! Que nos reconcilie Consigo e com os demais, e nos alegre com sua presença e amor. Que desejemos mais a Ele do que as coisas que pode nos dar. O Senhor está muito próximo! Nós é que, distantes, frequentemente não percebemos.

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