Nós pensamos que as nossas ações são mais importantes do que os nossos pensamentos. Mas é o contrário, nos ensina Jesus, pois tudo nasce do nosso coração, as obras boas e as más. Podemos dizer que as nossas ações são os sintomas, mas os pensamentos que brotam em nosso coração, usando uma linguagem bíblica, são a causa da nossa saúde ou da nossa doença. Por isso, a oração é tão importante e necessária. Ela é um gesto que deve partir dos nossos pensamentos e do nosso coração, não podendo ser apenas um repetir de gestos exteriores.
Rezar, portanto, é, acima de tudo, unir a nossa mente e o nosso coração em um desejo ardente e sincero, em um pedido, uma intercessão por alguém, uma súplica e agradecimento que dirigimos a Deus. O Senhor não brinca conosco, pois nos criou e nos ama. Se nos voltarmos sinceramente para Ele com todo o nosso ser, Ele responde. Sua resposta, muitas vezes, é diferente do que pensávamos, mas virá, no momento oportuno – podemos ter certeza – e nos salvará.
Um santo eremita, São Romualdo, que viveu por volta do ano 1000, e cuja festa comemoramos em 19 de junho, deixou uma pequena regra de como rezar, que diz assim: “Senta-te no teu quarto, como se estivesse no paraíso. Esquece-te, por um momento, das coisas do mundo. Vigia e presta atenção aos teus bons pensamentos como um bom pescador aos peixes. Use esse tempo para rezar os Salmos. Se não estás habituado e não consegues entender tudo, ou começares a te distrair, não desanimes deixando de meditar, mas esforça-te para voltar a atenção à leitura. Antes de tudo, coloca-te na presença de Deus com atitude humilde, pois Ele é o teu Senhor. Esquece totalmente de ti, colocando-te na posição de uma criancinha, que espera tudo da graça de Deus. Pois se a mãe não der comida, ela não tem o que comer”.
Os Salmos são o alimento privilegiado dos monges e monjas, desde o início do monaquismo cristão. Neles, encontramos tudo o que é humano e o modo adequado de voltarmo-nos para Deus (não nos assustemos quando eles falam da vingança contra os nossos inimigos, porque estes, na verdade, não são outras pessoas, a quem devemos amar e fazer o bem, mesmo que nos façam o mal, como nos ensina Jesus, mas são os espíritos maus que querem nos derrubar).
São Romualdo fala ainda de vigiar e prestar atenção aos bons pensamentos e pescá-los como um pescador de peixes. Este é um grande exercício de atenção. Mas é um exercício doce, não um esforço. Reze por quem lhe faz mal. Quem reza por alguém não consegue odiá-lo. Quem faz mal pagará as contas para a vida. É sempre infeliz, no fundo, mesmo que não pareça. Reze e peça que o Senhor tenha piedade dele. Esse é um pensamento bom-peixe! Se você conhece bem que lhe fez mal, lembre-se das qualidades dele, pois todos temos. Deus criou e ama todas as pessoas. Jesus também rezou por quem O crucificou, dizendo: “Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem”. Agradeça a quem lhe ensinou algo em uma situação desagradável, e a quem obriga você a treinar a paciência. Preste atenção à beleza da natureza, admire-a e agradeça a Deus. Gaste um tempo escutando música que eleva, enche de paz e comove, agradecendo a quem a compôs. Procure realizar gestos de ajuda a alguém, dedique tempo para cuidar de si, agradeça por tudo o que acontece e O obriga a rezar, pedir e suplicar. Todos esses são bons peixes!
A tradição monástica, por fim, ensina a rezar sempre, continuamente, a “oração do coração”, até que se torne espontânea; que pode ser a oração do publicano: “Senhor, tenha piedade de mim, pecador”, ou então, “Vem, Senhor Jesus, vem por Maria”, ou ainda apenas pronunciar repetidamente (sobretudo nas horas mais difíceis): “Jesus, Jesus, eu te amo”. Procure sempre conversar com Jesus. Todos esses são pensamentos curativos, são ar puro, que purificam o ar do mundo, combatem as guerras e os ódios, as fumaças pretas que pairam sobre o mundo, pois os nossos pensamentos se irradiam até os últimos confins do universo.