Peregrinos da Esperança

A cada 25 anos, a Igreja celebra um Jubileu, ou Ano Santo. O próximo será celebrado em 2025, com o tema “peregrinos da esperança”. Os preparativos já estão em andamento, não apenas na Santa Sé, por conta do Dicastério para a Evangelização, mas em todo o mundo. Os jubileus são tempos de graças especiais e envolvem a Igreja inteira, sendo destinados à reconciliação, ao perdão, à promoção de iniciativas voltadas à caridade, à justiça e à paz. As iniciativas do jubileu, religiosas, culturais e sociais, podem ser muito variadas.

Embora as referências para a sua celebração sejam os lugares especialmente significativos para nossa fé, na Terra Santa e em Roma, a participação local em iniciativas do jubileu também são muito importantes. Por isso, as Conferências Episcopais de todo o mundo já estão se organizando para celebrar o próximo Jubileu. Também a nossa Conferência Episcopal (CNBB) já está trabalhando na preparação do Jubileu e, nesta semana, encontra-se em Brasília o Arcebispo Rino Fisichella, do Dicastério para a Evangelização, encarregado do Papa para a organização e animação do Jubileu. Dom Fisichella falará aos representantes das dioceses de todo o Brasil sobre a preparação do Jubileu.

O Papa Francisco pediu que, na preparação e vivência do Jubileu, a Igreja volte a valorizar o Concílio Vaticano II, cujos documentos ainda mantêm grande valor e estão longe de terem sido esgotados. Pediu, sobretudo, que se volte aos Documentos sobre a Igreja (Lumen gentium), a Palavra de Deus (Dei Verbum), a Liturgia (Sacrosanctum Concilium) e a missão da Igreja no mundo de hoje (Gaudium et Spes). Breves textos didáticos estão sendo publicados também no Brasil, pela Conferência Episcopal, para facilitar o retorno a esses textos do Concílio.

Francisco determinou, ainda, que o ano de 2024 seja dedicado à oração pelos bons frutos do Jubileu: rezar mais, rezar melhor, aprender novamente a rezar. Numa audiência concedida recentemente a um grupo de peregrinos, em Roma, Francisco lembrou que, sem oração, a Igreja se transformaria numa instituição humana comum.

O tema do próximo Jubileu, escolhido pelo Papa é muito significativo: “peregrinos da esperança”. Pode tratar-se tanto da virtude teologal da esperança, como também das justas esperanças humanas, que animam o cotidiano de nossas vidas e se relacionam com o sentido da vida neste mundo. A esperança é uma virtude teologal, que recebemos como graça de Deus mediante o Batismo, junto com a fé e a caridade. Geralmente, falamos pouco da esperança, quase como se fosse a irmã menor das outras duas. Mas não é assim. A esperança é fundamental em nossa vida.

O Catecismo da Igreja define a esperança como “a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o reino dos céus e a vida eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e nos apoiando, não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo” (no 1817). E a esperança cristã baseia-se na palavra de Deus e na fidelidade de Deus às suas promessas: “Continuemos a afirmar a nossa esperança, sem esmorecer, pois aquele que fez a promessa é fiel” (Hb 10,23). A esperança é uma aspiração colocada por Deus no coração de cada ser humano e se manifesta pela busca de realização dos anseios e necessidades de cada dia: ter saúde, superar os males, alcançar os bens necessários à vida digna, ser atendidos em nossas demandas por justiça, ter a própria dignidade reconhecida e respeitada e assim por diante.

Ninguém deseja ser infeliz e frustrado em seus anseios, mesmo quando isso acontece tantas vezes. Mas não nos contentamos com as frustrações e buscamos, de alguma forma, uma solução e a superação. Em poucas palavras, somos animados pela esperança humana, baseada na confiança em nossas possibilidades e na veracidade de nossos justos anseios. Esses sinais de esperança humana apontam para o centro da questão: somos seres de esperança, sempre abertos à superação dos males e desejosos de alcançar aquilo que nosso coração busca, mesmo sem ter ideia clara do objeto da esperança. A falta de esperança nos faria seres frustrados e absurdos.

Por sua vez, a virtude teologal da esperança nos é dada junto com o dom maior do Batismo: a nossa filiação divina. Somos filhos e filhas de Deus e, portanto, herdeiros de Deus. É São Paulo quem o afirma: “O próprio Espírito se une ao nosso espírito, atestando que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros: herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo” (Rm 8,17). O cristão é animado por essa suprema esperança, sabendo que o objeto da sua esperança não depende só dele mesmo, mas de Deus, fiel às suas promessas.

Bento XVI escreveu uma preciosa encíclica sobre a esperança cristã: Spe salvi (salvos na esperança). Um mundo sem Deus, é um mundo sem esperança e sem futuro. Oxalá o Jubileu ajude o mundo a se voltar para, também, redescobrir a beleza e a força dinâmica da virtude da esperança.

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