Por que o Matrimônio monogâmico?

Há pouco tempo, saiu uma reportagem em um portal de notícias sobre um casal de belas araras azuis, ressaltando-se que essa espécie tem uma relação monogâmica, e por toda a vida. Isso me fez pensar sobre como as coisas são para a nossa espécie.

Ora, a espécie humana é única, seja por causa do papel que a cultura cumpre nos arranjos que visam à reprodução, seja por causa de características evolutivas peculiares. Entre essas se destaque que todos os bebês nascem prematuros (quando comparados com crias de outros primatas) e requerem um longo período de cuidado até que tenham condições de se manter por conta própria, e todo um processo educativo para que nos tornemos adultos prontos para a vida social. Daí o interesse das fêmeas de nossa espécie para que os pais de suas crias estejam por perto por um longo período, e que lhes sejam fiéis, principalmente para as tarefas de subsistência e educação.

Faz assim todo sentido que nós mantenhamos relações monogâmicas por longos períodos, e que as relações extraconjugais sejam desencorajadas. Mas a nossa espécie sempre conviveu com outros arranjos familiares, por exemplo, a poligamia em algumas culturas, assim como as traições perpetradas principalmente por machos-alfa. Não há consenso entre os especialistas em evolução humana sobre quais arranjos são mais adaptativos. Há alguns anos, lembro-me de ter lido uma antropóloga defendendo uma “monogamia serial”, ou seja, um arranjo válido até que a criança completasse uns quatro ou cinco anos e tivesse maior autonomia.

O que nos vem por natureza, portanto, não é tão vinculante assim. A tradição católica sempre recorreu a duas fontes nesta matéria: primeiro, a tradição bíblica que, apesar de algumas variações, sempre se pautou por Gênesis 2,24, um mandamento repetido e enfatizado depois por Jesus (cf. Mt 19,5-6). Segundo, a filosofia grega e o direito romano, que também apontavam para a monogamia. Destas duas fontes surge outra tradição, a do direito natural, sempre mantido pela Igreja como algo crucial para a regulação das atividades humanas. Para que o direito seja natural, é importante que a monogamia duradoura seja compatível com a natureza humana, o que, como vimos acima, pode bem ser defendido. Mas o “é” não se sustenta sem um “dever ser”, ou seja, questões relativas à dignidade e ao florescimento do humano. Queremos ser melhores, e isso em conjunto com os outros. Tal “dever ser” se torna hoje mais necessário do que nunca, quando as relações se “liquefazem” em múltiplos arranjos e conveniências, com um propósito mais de fruição do que construção. Para que creiamos que as relações monogâmicas duradouras, de fato, cumprem o papel de dignificar tanto o casal quanto os filhos, argumentos e censuras não basta. É necessário mais do que nunca o testemunho das famílias cristãs: primeiro, que o Matrimônio é possível e que, se vivido em comunhão com a Igreja, permite a dignidade que tanto se almeja.

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