Povo de discípulos missionários

Há muitos anos, outubro é o mês das missões no Brasil, com iniciativas voltadas a despertar e aprofundar na comunidade da Igreja a consciência de que somos um povo missionário. Não apenas alguns católicos são missionários, mas todos os batizados o são, pois participam dos dons da redenção e foram feitos discípulos de Jesus e testemunhas do Evangelho, conforme ordem de Jesus, antes de se elevar ao céu: “Vós sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia, na Samaria, até os confins da terra” (At 1,8). 

No final dos Evangelhos segundo São Mateus e São Marcos, temos um envio missionário semelhante: “Ide, pois, fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). “Ide pelo mundo inteiro e proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Este envio missionário é constitutivo da Igreja de Cristo como missionária. Ela existe em vista da missão e deve desempenhá-la até o fim dos tempos. A Igreja é missionária por sua natureza e, se deixasse de lado a ação missionária, ela se tornaria infiel a Jesus Cristo, seu divino Fundador. 

Em cada época e lugar, em cada contexto social e cultural, a Igreja precisa pensar sobre o modo de desempenhar a missão. O Concílio Vaticano II distinguiu duas frentes missionárias principais: missão permanente, onde a Igreja já está presente; e missão “ad gentes”, ou seja, no meio dos povos ainda não evangelizados. Ambas têm as suas características próprias, suas dificuldades e desafios, suas alegrias e belezas. Nenhuma das duas frentes deve ser descuidada pela Igreja. A missão “ad gentes” necessita do apoio espiritual, humano e material das comunidades já evangelizadas, que partilham sua fé e seus recursos para que outros povos também possam ter parte nas riquezas do Evangelho e da vida da Igreja. 

Para o apoio ao trabalho missionário “ad gentes”, é feita a Campanha Missionária todos os anos, em outubro, em toda a Igreja, culminando com a celebração do Domingo das Missões, que se celebra no domingo, 23 de outubro. Todos os católicos são encorajados a fazer sua doação generosa na coleta da missa desse domingo. O fruto da coleta é encaminhado para as Pontifícias Obras Missionárias e para o Dicastério para a Evangelização, que apoia e subsidia o trabalho dos missionários em muitos países onde a Igreja ainda está começando sua atuação e presença, ou ainda está necessitada de ajuda. Assim acontece em toda a África e em grande parte da Ásia, onde ela só consegue realizar o seu trabalho missionário graças a esse apoio generoso dos católicos de todo o mundo. 

A outra dimensão do trabalho missionário da Igreja é a missão permanente, exercida aqui mesmo, onde estamos, em cada comunidade, para transmitir e alimentar a fé do povo, ampliar o anúncio do Evangelho para que chegue aos que entre nós ainda não foram evangelizados ou abandonaram a fé. A missão permanente é exercida de muitas formas: a pregação, a catequese, o testemunho pessoal da fé vivida, da caridade e da esperança, a participação dos leigos na edificação do mundo com os valores do reino de Deus. A ação missionária realiza-se, de maneira especial, na transmissão da fé e na sua vivência pessoal e familiar, na iniciação à vida cristã e educação cristã das novas gerações. Nossas comunidades e todas as expressões de vida cristã e eclesial precisam renovar-se (“converter-se”) na consciência e na ação missionária, não se contentando com uma pastoral de manutenção voltada apenas para as comunidades e organizações já existentes. É preciso manter vivo o ardor missionário nas comunidades cristãs já organizadas, dando atenção às “ovelhas” que se extraviaram ou nunca foram buscadas. 

A Igreja se renova e cria novo dinamismo quando se faz missionária. Nosso sínodo arquidiocesano, que caminha para a sua conclusão, aponta nessa mesma direção: “conversão missionária”. E a proposta é esta: que a Arquidiocese inteira, as paróquias, comunidades pequenas dentro delas, famílias católicas e todas as expressões de vida eclesial se assumam sempre mais como “comunidades eclesiais missionárias”. Como realizar isso? A assembleia sinodal arquidiocesana está preparando uma série de indicações para dar novo impulso missionário a toda a grande comunidade católica da nossa Arquidiocese. Todos juntos, somos um povo de discípulos missionários de Jesus Cristo e suas testemunhas na Cidade. 

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