Prestar contas!

Prestar contas faz parte da vida, e todos estamos sujeitos ao dever de fazê-lo, mesmo se isso não nos parecer muito simpático. O administrador deve prestar contas da responsabilidade assumida; o trabalhador o faz àquele que o contratou; o esportista, ao seu clube e à torcida; o governante deve prestar contas ao povo; o padre presta contas ao bispo que o nomeou e à Igreja; o bispo presta contas à diocese, à sociedade e à Santa Sé. E cada um deve prestar contas à própria consciência.

Prestamos contas porque não somos senhores absolutos de nossas ações e iniciativas, nem estamos acima do bem e do mal. Faz parte de nossa responsabilidade social, uma vez que somos seres relacionais. A prestação de contas decorre do senso ético e moral de nossas pessoas e ações. E, quando se trata da nossa vida, a quem devemos dar contas?

Na parábola dos talentos (cf. Mt 25,14-30), meditada no domingo, 15 de novembro, Jesus ensina que, no reino de Deus, as coisas não são diferentes. Deus nos entrega dons e capacidades, que podem ser diversos para cada um, “conforme as suas capacidades” (25,14). O maior de todos os dons é a própria vida. E Deus espera que cada um coloque seus dons para produzir frutos e rendimentos ao longo da vida: as boas ações que praticamos, as obras de caridade e misericórdia, a dedicação generosa à promoção do bem comum na comunidade local ou para toda a humanidade. Frutos também são a dedicação à família, à criação dos filhos, ao cuidado dos doentes e idosos, à produção de obras culturais que elevam o espírito e educam; dedicação à ciência e à técnica em benefício da humanidade, aos serviços profissionais e artísticos… Não é possível enumerar todas as oportunidades para fazer multiplicar os talentos recebidos.

No dia em que Deus nos chamar para o julgamento, deveremos prestar contas de nossa vida. E não adiantará nada alegar que não se acredita Nele, nem nessas coisas. A prestação de contas será para todos. E haverá muita felicidade ao ouvir do Supremo Juiz este elogio: “Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te darei muito mais: entra na alegria do teu Senhor!” (25,21). A recompensa de Deus será grande! E haverá muitas surpresas, ao ver gente desconhecida de nossas igrejas, que receberá grande recompensa, por ter dedicado sua vida, de modo honesto e generoso, à prática do bem.

No entanto, haverá também a decepção amarga de quem passou a existência sem nunca se preocupar em fazer algo de útil da sua vida. Quem vive apenas pensando em si próprio e sempre pretende tirar vantagem apenas para si, talvez escutará esta terrível repreensão: servo inútil, que fizeste de tua vida? “Servo mau e preguiçoso!” Tu bem sabias que, um dia, deverias prestar contas de tua vida. Que fizeste de bom com os dons recebidos? E para esse não haverá a recompensa da felicidade eterna, mas o lamento e a condenação eterna (25,26).

Parece fora de moda falar que deveremos prestar contas a Deus de nossa vida e de nosso agir. Pensar assim seria cair na grande e permanente tentação do homem, desde Adão e Eva: “Ser igual a Deus”, sem dever dar contas da vida a ninguém, nem mesmo a Deus. O julgamento e a prestação de contas, porém, são parte sólida do ensinamento de Cristo, conforme também lemos na parábola do grande julgamento (cf. Mt 25,31-46). Que Deus espera fruto de nossa vida, está muito claro em várias passagens do Evangelho, como a parábola do semeador (cf. Mt 13,1-30) e a da figueira estéril (cf. Mt 21,18-19).

A fé sincera em Deus nos leva a viver de maneira responsável, esforçando-nos na realização de nossos deveres e na prática do bem. A recompensa será grande para quem aceita os caminhos de Deus, observando seus mandamentos e colaborando de maneira generosa e alegre na realização de toda obra boa. A aproximação do final do ano litúrgico nos confronta com a perspectiva do final de nossa vida, do julgamento divino e da recompensa eterna. Assim, poderemos viver serenos e cheios de esperança. A “alegria do Senhor”, ou felicidade eterna, é prometida a todos os que fazem de sua vida um tempo de generosa dedicação a Deus e ao próximo.

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