‘Prova e exercício do amor’

Alguns períodos de prova decisivos foram assinalados pelo número quarenta. Durante quarenta dias, o dilúvio caiu sobre a terra (Gn 7,12); por quarenta anos, os israelitas andaram errantes no deserto (Nm 32,13); Moisés esteve com Deus quarenta dias, sem comer nem beber, para a revelação dos Mandamentos (Ex 34,28); quarenta dias foi o prazo dado por Jonas para que Nínive fosse destruída (Jn 4,3). Após esses períodos duros de “quarenta”, a relação dos homens com Deus se estreitou e se aprofundou de um modo novo.

Também Nosso Senhor Jesus Cristo quis que sua pregação fosse precedida por quarenta dias e quarenta noites no deserto, durante os quais Ele jejuou, orou e foi tentado por satanás (Cf. Mt 4,2; Mc 1,13). Depois da Ressurreição, Ele apareceu por quarenta dias aos Apóstolos, confirmando-os na fé (At 1,3). Movida por essa tradição que vai do Gênesis à Redenção, a Igreja, desde a época apostólica, prepara a celebração da Páscoa e o batismo dos novos fiéis por meio da Quaresma. Durante quarenta dias, praticamos mais assiduamente o jejum, oração e as esmolas, obras que Cristo mandou fazermos em segredo para adquirirmos “um tesouro nos Céus” (Mt 6,1-21).

A Quaresma é um tempo de prova e de purificação! Pelo jejum, expiamos os pecados e pedimos, como os ninivitas, que o Senhor afaste as penas temporais por eles merecidas. A privação de satisfações sensíveis prepara-nos, como a Moisés, para enxergar a vontade de Deus. Pela esmola, nos libertamos da avareza – que é uma idolatria (Cl 3,5) – e do egoísmo, para nos colocarmos à disposição de Cristo, que continua sua obra por meio da Igreja. Pela oração, cumprimos a finalidade da nossa existência no “deserto” deste mundo: unir-nos a Deus já aqui para, ao fim da peregrinação terrestre, vivermos definitivamente a Ele no Céu, que é a verdadeira Terra Prometida.

Como todos os períodos de prova, a Quaresma é uma preciosidade! “Feliz o homem perseverante na provação pois, uma vez provado, receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu àqueles que o amam” (Tg 1,12). Na vida, somos constantemente postos à prova: as circunstâncias, as fraquezas pessoais, as pessoas hostis, a falta de saúde, as dificuldades econômicas, o tentador… Tantas coisas põem à prova nosso amor, fé e paciência, que pode- ríamos até nos assustar! Tudo, porém, se torna um instrumento de Deus para que aprendamos a amar e a crer. Por meio da purificação mais intensa da Quaresma, exercitamo-nos na perseverança, na paciência, na fé e no amor; e a provação nos tece uma linda coroa de glória!

Façamos propósitos concretos para este tempo de graça! Seremos sustentados pela oração da Igreja inteira e sustentaremos também nós aos outros, por meio de nossas preces. Deus nos concederá graças especiais. Com Jesus no deserto, cantemos: “Bendito o Senhor, meu rochedo, que treina minhas mãos para a batalha e meus dedos para a guerra” (Sl 144,1). Bendito o Senhor que nos exercita no seu amor!

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