Como já disse em algumas ocasiões, estamos vivendo uma grande crise de autoridade no mundo. Qualquer um que observe os acontecimentos e relações percebe facilmente essa realidade.
No âmbito da família, isso não é diferente; ao contrário, parece que é o lugar em que iniciamos esse movimento desde muito cedo, na relação com as crianças.
Em minha experiência clínica, observo essa realidade crescendo e se estabelecendo de modo muito intenso a cada novo dia. É impressionante o quanto, mês a mês, recebo pessoas cada vez mais perdidas sobre o que fazer com seus pequeninos filhos: “Ele não aceita receber não; não gosta de calça, mesmo que esteja frio; não quer comer; não quer tomar banho de jeito nenhum…” enfim, pequenos déspotas. Decidem, estabelecem e os pais “respeitam”, não querem causar descontentamentos e acabam causando coisas muito piores.
Como assim piores? Sim, crianças que não são orientadas, que percebem insegurança dos pais ao colocar limites, tornam-se inseguras também. Ficam agitadas e irritadiças; afinal, estão sendo tolhidas de viver a infância. Perdem o direito de ser crianças simplesmente, assumindo tarefas para as quais não estão preparadas ainda – têm que decidir, escolher, definir. Neurológica, afetiva e racionalmente não estão preparadas para isso, precisam de segurança e orientação para chegar a essa condição.
A maioria dos pais quer acertar, quer muito fazer o melhor para seus filhos. No entanto, estamos vivendo imersos em uma quantidade imensa de informações e já não conseguimos identificar com clareza o melhor. Muitos pensam que estão sendo firmes e, na verdade, acabam sendo agressivos, duros. Outros pensam que estão sendo pacientes e pecam pela permissividade.
É importante, para podermos aperfeiçoar nossa atuação em relação aos filhos, que identifiquemos como estamos nos posicionando, como estamos verdadeiramente funcionando nessa relação. Toda mudança é viabilizada pela consciência da má conduta; portanto, vamos nos observar com coragem e identificar que tipo de pais e mães estamos sendo:
1. Permissivos – evitam conflitos, acreditam que o melhor é que o filho seja feliz a maior parte do tempo e, para eles, filhos felizes são filhos satisfeitos em seus desejos. Ocorre que há omissão daquilo que é essencial na formação do caráter: os valores;
2. Autoritários – mandam por mandar. Querem que os filhos se submetam às suas ordens, mesmo que não tenham bem certeza por que as deram. Tendem a ameaças e agressões para serem obedecidos;
3. Preguiçosos – são aqueles que buscam o conforto e pensam: “Para quê entrar em embate? Tudo passa”. Evitam ao máximo quebrar rotinas, uma vez que dá muito trabalho retomá-las. Querem evitar o estresse: birras, brigas… Cedem por cansaço e valorizam a paz;
4. Autoridades – que fazem uso adequado da autoridade e entendem que sua ação é um serviço para a formação dos filhos, ou seja, não estão para fazer o mais fácil, mas sim o melhor. Percebem a obediência como uma virtude e, por isso, sabem que ela aperfeiçoará seus filhos, que é o caminho para a formação de um caráter rijo.
Nos três primeiros tipos, existe um ponto em comum: o que se busca não é o bem da criança (sua boa formação), mas sim o conforto. Claro que isso acontece de modo inconsciente, sem perceber quão danosa é essa postura.
Queridos, é urgente nos conscientizarmos da missão formativa que é confiada aos pais. Ela somente acontecerá se assumirmos nosso lugar de verdadeiras autoridades na vida de nossos filhos. Coragem, vale a pena!