Salvar almas: que grandioso empreendimento!

Temos, para melhor dinamismo da caminhada bíblica, três ciclos de anos litúrgicos. Eles vão imprimindo delineamentos próprios à liturgia de cada ano: Ano A, B e C. Em 2024 – Ano B – a predominância é a leitura do Evangelho segundo São Marcos. Esse evangelista corresponde a João Marcos, parente de Barnabé, que aparece no livro dos Atos dos Apóstolos. Trouxe aqui o capítulo 13 de São Marcos. “Naqueles dias, depois dessa tribulação, o sol se escurecerá, a lua não dará o seu resplendor; cairão os astros do céu e as forças que estão no céu serão abaladas. Então, verão o Filho do Homem voltar sobre as nuvens com grande poder e glória” (Mc 13,24-26). Trata-se de um olhar sobre os acontecimentos da década de 70 de nossa era, quando os romanos invadiram e destruíram Jerusalém e o templo. Seria o fim do mundo?, interrogavam os discípulos de Jesus. Marcos fez uso de uma linguagem estranha para nós. Porém, esse modo de dizer as coisas não tem o intuito de assustar: é uma forma de animar a comunidade, para que não se deixe enganar por incidentes que não configuram o fim de tudo. Fenômenos cósmicos não exprimem o fim do mundo. Depois deles, pode surgir um novo cenário. Como a natureza: depois do inverno austero, chega a primavera. A vida se desvela, resoluta, com exuberância.

Nós sabemos discernir a chegada da primavera; precisamos também saber interpretar os sinais da presença de Deus na história. A nós, católicos, não nos deve preocupar a interrogação sobre o fim, mas somos convocados a viver o presente e, no agora de cada dia, a estabelecer nossa história em meio às vicissitudes; por entre exultações e contrariedades; na claridade da presença de Deus e na penumbra por onde campeiam nossos pecados. Cada católico deve experienciar a condição de peregrino da vida terrena. Não somos cidadãos; somos desterrados marchando para o lugar definitivo, verdadeiro, absoluto. O que você faz hoje, onde mora, o seu saber, seus amigos… nada é permanente: trata-se de uma etapa da viagem. Devemos construir aqui apenas tendas, como fazia São Charles de Foucauld e seus tuaregues no deserto.

Alguns olham nossa religião como inimiga do mundo, da verdade, do progresso. Como se fosse apenas uma religião de renúncias, que termina por arrefecer o interesse pela vida terrena, com o devaneio de um “depois” venturoso e feliz, mas ilusório.

Nossa tarefa de batizados não pode ser de dispersão ou fuga. Comprometermo-nos com mais obstinação para a salvação do mundo torna-se um dever que se nos impõe. Urge o engajamento no mutirão para a santificação das almas: é assim que nosso Batismo confirma sua validade e glorifica a Deus. Nesse intuito, fazendo milagres, inclusive! O Padre Renato Rosso, italiano, iniciador da Pastoral dos Nômades do Brasil, com quem residi em acampamentos e circos de norte a sul do Brasil, escreveu num de seus livros: “Que você não passe ao largo por cinco mil pessoas com fome sem lhes dar de comer. Você dirá: ‘Eu não tenho pão para tanta gente!’ Eu lhe respondo: Vá comprar. Então, você me irá retrucar: ‘Mas eu não tenho dinheiro’. Ao que responderei: Faça milagres!”

O empreendimento de salvar pessoas para o céu conta com o engajamento de pessoas que oferecem seu tempo, seu saber, sua criatividade, seus recursos. É luta árdua! E tem a ver com a fé. Somente as forças humanas não permitiriam chegar a bom termo.

Não nos dispersemos e não sejamos indiscretos buscando respostas acerca da segunda vinda de Jesus: essa hora, ninguém a conhece. Em At 1,7, disse o Mestre: “Não vos pertence conhecer os dias e os tempos”. Assim, todas as gerações têm sede de Deus. A vinda definitiva do Senhor, será semelhante à primeira: os profetas, os justos, os dignos ansiavam por ela; a esperavam com todas as forças.

Queridos irmãos, nossas tribulações de hoje são uma forma de conquistarmos a salvação. Rezemos sempre. E esperemos no Senhor!

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