‘Se o grão de trigo não morre, continua só um grão de trigo’ (Jo 12,24)

A condição mortal é sujeita à inconstância e ao movimento. Já que não conseguimos manter sempre igual intensidade espiritual, precisamos de tempos especiais, como a Quaresma e o Advento, para intensificar a oração, renovar o amor a Deus e fortalecer os bons propósitos. A cada dia, temos necessidade de reservar alguns minutos – ao menos 20 – para falar com Deus, rezar o Terço ou ler o Evangelho. Do contrário, devido à oscilação humana, seremos absorvidos pelas (pre)ocupações; e Deus se tornará, então, uma lembrança distante.

A busca pela constância na vida espiritual é uma das lutas diárias mais importantes! Nossa natureza frágil facilmente se esquece de que precisamos do Senhor. Ainda que não tenhamos “inspiração” e vontade, é preciso dar um “empurrão”: orar, mesmo que não nos sintamos escutados; pôr-se em presença de Deus, mesmo que premidos por coisas “urgentes”; buscá-Lo, mesmo que na aridez e sem “espontaneidade”. Ao fazer isso, exercitamos a virtude da fé, que deve ir muito além da inclinação e dos sentimentos momentâneos.

Aliás, a constância deve ser exercitada em tudo! Ao se realizar as tarefas no trabalho; ao se conversar diariamente com os filhos, interessando-se por seus pensamentos e atividades; ao se cultivar amizades; ao se lutar contra as variações do humor; ao se alimentar a esperança em meio a circunstâncias difíceis… Tudo isso exige um empenho constante da vontade. Nesse combate, a oração e a Fortaleza – dom do Espírito Santo – são necessárias.

Certas coisas sempre passam. Depois da noite, vem o dia; depois do vigor, a velhice; depois da tempestade, a calmaria; depois da penitência, a força do alto; depois da Quaresma, a Páscoa. Depois da agitação desta vida, virá a morte e, com ela, o encontro com o Senhor. Depois do purgatório, virá a Luz eterna… Esta, contudo, não passará, pois, “tudo passa, só Deus não muda” (Santa Teresa). Deus, nosso Pai, é o Fim último de toda a existência e permanece para sempre, sem mudança.

Sabemos que, depois das variações e inseguranças deste mundo, encontraremos Nele a estabilidade sem fim; depois do desconforto presente, o conforto eterno; depois da inconstância, o Único que não muda; depois do temporal, o eterno. Até lá, porém, muitas coisas passarão. Temos de aceitá-las com amor e coragem, e confiar em Deus! Nesse caminho, a constância da fé nos permite pressentir um pouco da beleza da eternidade.

O Senhor diz que “se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto” (Jo 12,24). Ele se referia à sua Paixão, Morte e Ressurreição. De certo modo, também se refere às inumeráveis coisas – em nós e no mundo – que passarão, morrerão, causarão dor e vazio, mas permitirão que a existência seja fecunda, nesta vida e na eternidade. Os sofrimentos, a penitência, as dificuldades e mesmo a morte são o grão de trigo que, destruído, dará muito fruto.

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