‘Se o teu olho é ocasião de pecado, arranca-o’

Longe de abolir os Mandamentos, Cristo levou-os à perfeição: “Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento” (Mt 5,17). Ele, inclusive, impôs uma exigência ainda maior no cumprimento da justiça para com Deus e para com os homens. O mero cumprimento externo das normas não basta; Jesus pede uma total adesão de nosso coração!

Por isso, Ele ensina: “ouvistes o que foi dito: ‘Não matarás! Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo” (Mt 5,21). Não basta se abster do mal; é necessário não querê-lo! Não praticar imoralidades sexuais, por exemplo, é uma obrigação óbvia. Cristo pede-nos muito mais: “todo aquele que olhar para uma mulher com o desejo de possuí-la já cometeu adultério com ela no seu coração” (Mt 5,27). 

Deste modo, o Senhor ensina que é possível pecar inclusive por meio dos pensamentos e que é preciso que nos esforcemos para sermos justos na intimidade, quando somente Deus nos vê e ouve. No ato penitencial da Santa Missa, dizemos: “pequei muitas vezes, por pensamentos e palavras, atos e omissões”. Inclusive pecados mortais podem ser cometidos, se consentirmos plenamente em pensamentos e desejos contrários à Lei de Deus! Se alimentamos deliberadamente propósitos de vingança, homicídio, impurezas sexuais, ressentimentos, cobiça, juízos temerários e desprezo pelo próximo, pecamos contra Deus e perdemos a sua graça santificante. Neste caso, temos de, humildemente, pedir perdão a Ele na Confissão e suplicar-lhe a graça da vigilância e da conversão. 

Além do recurso ao Sacramento da Confissão, o cristão que quiser aprender a amar a Deus e ao próximo de verdade deverá afastar energicamente – com o emprego da vontade – todos os maus pensamentos que lhe advierem. É normal que nos venham pensamentos ruins de ira, impureza, orgulho, vaidade etc. Ter um pensamento mau em si não é pecado. O pecado surge quando consentimos ou alimentamos tal pensamento. Portanto, é preciso repelir prontamente, com um ato de amor a Deus, as más sugestões vêm à nossa cabeça ou ao coração.  

Como fazer uma limpeza dos pensamentos e da imaginação? Guardando a vista: não olhando com curiosidade tudo aquilo que nos interessa ou atrai, especialmente se é algo pecaminoso! Deter o olhar em algo que pode nos colocar em ocasião próxima de pecado já é, em si mesmo, um pecado. Afinal, somente entrará na casa do Senhor “aquele que fecha os olhos para não contemplar o mal” (Is 33,15). Protejamos o coração de filmes, séries, sites, músicas e ambientes que fomentam a cobiça, a violência ou a sensualidade. Jamais olhemos para algo ou para alguém com o fim de satisfazer a nossa concupiscência.

“Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal; ele receberá aquilo que preferir” (Eclo 15,18). Escolhamos ter os olhos e os pensamentos sempre colocados no Senhor. Somente assim é possível percorrer os seus caminhos, manter o coração inocente e ter uma vida profunda de oração.

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