5º DOMINGO DO TEMPO COMUM 6 DE FEVEREIRO DE 2022
Contemplando brevemente a glória de Deus, Isaías exclamou: “Ai de mim, estou perdido! Eu vi com meus olhos o Rei” (Is 6,5). E, quando Moisés pedira para ver sua glória, o Senhor mostrou somente “as costas” e disse: “Um homem não pode me ver e continuar vivendo” (Ex 33,18-23). Nesta vida é impossível conhecê-lo face a face! Ao se manifestar no Antigo Testamento, Deus ocultava o Rosto por detrás da “glória”: luz, nuvens, raios, trovões, fogo…
Isso expressa um paradoxo da fé: buscamos a Deus e o desejamos, mas não o podemos ver perfeitamente nesta vida. Dizemos com o Salmo: “A minha alma tem sede de Deus e deseja o Deus vivo” (Sl 42,3), mas, diante Dele, detemo-nos com reverência e temor. Desejamos encontrá-lo e adorá-lo, mas ponderamos: “Quem poderá permanecer junto ao fogo devorador?” (Is 33,14).
Nós podemos “ousar” nos aproximar de Deus somente porque temos um Intercessor que no-lo permite: Jesus Cristo! Sendo “a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), “o resplendor da Sua glória” e “a expressão de Sua substância” (Hb 1,3), o Filho de Deus Se fez Homem visível e palpável! Sendo Deus eterno e transcendente, Ele vem até nós e torna possível que, por meio de Sua Humanidade Santíssima, conheçamos e nos unamos a Deus! Ele convida: “Aproximemo-nos, portanto, com coragem do trono da graça” (Hb 4,16)!
O Evangelho do próximo domingo mostra que também aqueles discípulos que “viram, contemplaram e apalparam o Verbo da Vida” (cf. 1Jo 1,1) experimentavam uma profunda reverência diante do Senhor. Jesus comia e caminhava com eles, ensinava-lhes, visitava suas casas, colocava-se como um verdadeiro Mestre e Amigo. Ainda assim, depois do prodígio da pesca milagrosa, Pedro não teve outro impulso senão o de se atirar a seus pés e dizer: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!” (Lc 5,8).
Esta é a bela “tensão” do coração do cristão: considerar-se indigno e sem direito algum, mas se aproximar com confiança porque é Ele quem diz: “Vinde a Mim” (Mt 11,28). Sem minimizar a sua Majestade, não rejeitamos o seu convite! Aproximamo-nos Dele pensando intimamente: “Senhor, eu não sou digno; venho somente porque Tu me chamas. Obrigado!”. E, quanto mais sinceramente nos reconhecemos indignos, mais O amamos, inundados de gratidão por Seu convite tão doce.
Essa “tensão” os Santos experimentaram profundamente! É uma graça concedida pelo Espírito Santo, que nos retém pelo dom do “temor”, mas nos impele por meio da “piedade”; e com ambos os dons nos move a amar e obedecer a Deus. Quanto mais reverenciamos e tememos o Senhor segundo o Espírito (não por vão temor), mais confiamos Nele e o amamos como filhos.
“Vós não vos aproximastes de realidade palpável: fogo ardente, escuridão, trevas, tempestade, trombeta… Mas vós vos aproximastes da Cidade do Deus vivo; de milhões de Anjos reunidos em festa, de Deus, Juiz de todos, e de Jesus Cristo” (Hb 12,18ss)… Senhor, nós não somos dignos, mas, por causa da tua palavra, nos agarramos em ti!