Talentos produzindo frutos

Chegando ao final do ano litúrgico, as celebrações da Igreja nos trazem textos da palavra de Deus sobre as realidades futuras da nossa existência: a morte para este mundo, o julgamento, a recompensa ou o castigo, a vida eterna. De fato, segundo a fé cristã católica, nossa existência não se resume àquilo que podemos experimentar e usufruir neste mundo. E não se encerra com a morte corporal.

A pregação de Jesus está repleta de referências ao céu, como “lugar” onde Deus reúne seus eleitos para toda a eternidade, saciados de felicidade e realizados plenamente nos seus anseios humanos mais profundos. A Igreja, desde seu início, professa firmemente a fé nas promessas de Deus e de Jesus sobre o céu e a eternidade feliz. Nos dois últimos artigos do “Creio em Deus Pai”, nós professamos: “Creio na ressurreição da carne e na vida eterna”. E no “Creio” mais longo, professamos sobre Jesus Cristo que “de novo há de vir em sua glória para julgar os vivos e os mortos. E o seu reino não terá fim”.

Tudo isso faz parte dos bens nos quais cremos, mas que ainda não possuímos, a não ser na esperança. Mas esperamos e buscamos com toda confiança, apoiados na fé sobrenatural e nas promessas de Deus a respeito daquilo que ainda “há de vir”. A esperança cristã não se refere a realizações humanas, mas àquilo que depende do poder e da autoridade de Deus. A esse respeito, São Paulo escreveu: “Se é só para esta vida que depositamos a nossa confiança em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais dignos de compaixão” (1Cor 15,19). O que esperamos não é obra do homem, mas de Deus e se baseia na fidelidade de Deus a si mesmo e às suas palavras.

Uma dessas passagens, que nos falam do julgamento que deveremos enfrentar diante de Deus depois desta vida e da recompensa ou castigo, é a parábola dos talentos entregues pelo rico patrão aos empregados, para que os fizessem render (cf. Mt 25,14-3). Jesus conta que um homem muito rico, antes de viajar para longe, entregou seu dinheiro aos empregados para que o fizessem render. Talento, no tempo de Jesus, era o nome de uma moeda do império romano. O proprietário entregou a diversos empregados quantias diferentes de talentos, conforme as capacidades de cada um deles, antes de partir. A vida seguiu em frente e, um dia, ele retornou e chamou às contas aqueles empregados.

Quem havia recebido cinco talentos negociou e ganhou outros cinco. E entregou ao patrão o dobro do que havia recebido. O que havia recebido dois talentos, igualmente: ganhou outros dois e os entregou ao patrão, que elogiou esses dois “servos bons e fiéis”. E porque “foram fiéis no pouco”, confiou-lhes muito mais e os convidou a se alegrarem com ele em sua casa. O julgamento desses dois servos foi positivo e eles foram recompensados. Valeu muito o esforço deles para fazer render os talentos recebidos.

Mas vem também o terceiro empregado, que havia recebido um talento. Esse escondeu o talento debaixo da terra e o devolveu ao patrão, sem nenhum rendimento. E ouviu a cobrança severa: “Servo mau e preguiçoso! Não devias ter negociado com esse talento para que, ao voltar, eu o recebesse com juros?” E a sentença foi pesada: “Ponham para fora esse servo inútil!” Para ele, não houve recompensa nem convite para participar “da alegria do seu senhor”, porque foi um servo mau, preguiçoso e inútil.

As parábolas de Jesus têm o efeito de envolver os ouvintes, a ponto de se sentirem parte delas e de se identificarem com os personagens e as situações retratadas nelas. A dos talentos nos faz perguntar logo sobre os “talentos” que nós também recebemos de Deus. E são tantos! O maior deles é a vida, com os dons e capacidades de cada um. Mas também os dons da fé, do Evangelho, dos sacramentos, das pessoas que fazem parte de nossa existência. São dons gratuitos de Deus, que não têm sua origem a partir de nós mesmos. O mundo, ao nosso dispor, também é um talento incomensurável, com a natureza toda, o sol, o ar, a água, os frutos da terra… Estamos cheios de “talentos”, confiados a nós, para que os façamos frutificar. O que fazemos deles e como os empregamos?

Um dia, seremos chamados às contas diante de Deus, que nos perguntará sobre o uso dos talentos a nós confiados. Seria muito ruim ouvir a dura palavra de reprovação: “Servo mau, preguiçoso e inútil! Não devias ter feito render os talentos que te foram confiados em vida?” E será muito bom ouvir: “Servo bom e fiel, foste fiel no pouco, por isso, vou te confiar muito mais. Vem participar da alegria do teu Senhor para o resto da eternidade!” Cada dia da vida é tempo favorável para fazer render os talentos recebidos, mediante a prática da fé e das virtudes, do amor a Deus e ao próximo e de toda boa ação, mediante o esforço pessoal na correspondência com a vontade de Nosso Senhor.

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários