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Todos os Fiéis Defuntos

No Dia de Finados, visitamos o cemitério para rezar, oferecer sufrágios pelos nossos parentes defuntos, deixar flores em seus túmulos como prova do nosso carinho e saudade. Ao percorrer os caminhos do cemitério, reparamos uma variedade imensa de tipos e formas de túmulos: uns grandiosos, com esculturas, com obras de arte; outros somente com terra e umas plantinhas. Se observarmos as datas e as fotos, perceberemos que a morte não leva apenas as pessoas mais velhas: morre também muita gente jovem, inclusive crianças. O Dia de Finados deixa uma questão pairando no ar: o que acontece com as pessoas que entram na eternidade? Como é a situação dos que já partiram desta vida? Como é a vida após a morte? São questões que o ser humano sempre se colocou, desde o início da história. Mas, mesmo que não saibamos em detalhe como será a outra vida, há algo que não podemos perder de vista: a existência da vida eterna. As religiões sempre procuraram dar uma resposta a essa questão. 

Possivelmente a maioria dos que fazem essas visitas, fazem-nas para recordar os entes queridos que já morreram, para manter viva a sua lembrança. É compreensível. Mas devemos aproveitar essa circunstância para, além de rezar pelos defuntos, meditar sobre a morte. Todos nós conhecemos pessoas muito próximas que já morreram. 

A realidade da morte revela a precariedade da nossa existência; a certeza da morte alerta-nos de que temos um tempo limitado para realizar a nossa vida. Jesus, no Evangelho, recorda-nos a insensatez de quem só se preocupa com os bens materiais e leva uma vida apegada a esta terra. Este é um erro infelizmente frequente: viver apenas voltados para as coisas materiais, colocar todas as energias em acumular bens perecíveis: tudo o que nos rodeia, que apalpamos e vemos, podemos chamar de bens perecíveis. O único verdadeiramente permanente na vida humana é a nossa alma. Não podemos comportar-nos como aquele homem insensato da parábola (Lc 12,16-20): acumula riquezas que não poderá utilizar, pela chegada da morte. Os bens materiais são corroídos pela passagem do tempo. 

O grande perigo é instalar-nos na vida presente como se fosse durar para sempre, esquecendo-nos de que a nossa pátria definitiva é o Céu. Precisamos aprender a viver como quem vai prestar contas de toda a sua vida a Deus na hora da morte. Ou seja, necessitamos aprender a viver cada dia como se fosse o primeiro e o último, uma unidade acabada. Aliás, todos os dias, quando chega a hora de dormir, temos que deixar tudo o que estamos fazendo por causa do sono: cada dia que passa é como um resumo da nossa vida… Isso nos deveria ajudar a pensar se estamos dedicando os nossos esforços naquilo que é realmente importante: ter a nossa alma preparada para entrar na vida eterna, cumprindo com fidelidade a nossa vocação e missão, dedicando tempo e atenção à oração, fazendo boas obras ao nosso próximo e recebendo com frequência os sacramentos. 

Este artigo foi originalmente publicado no folheto Povo de Deus em São Paulo, em 02/11/2024

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