‘Vai e faz a mesma coisa’

15º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Uma das passagens mais conhecidas do Evangelho é a parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10,25-37). Nela, Cristo reafirma que o caminho para se alcançar a vida eterna é o amor: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!” (Lc 10,27). Além disso, Jesus explica o que nos torna verdadeiramente “próximos” uns dos outros: estarmos atentos para “usarmos de misericórdia” (cf. Lc 10,37), sempre que houver ocasião.

Alguns Padres da Igreja tenderam a ler esta parábola como uma representação alegórica de realidades sobrenaturais. O homem que “descia de Jerusalém para Jericó” representaria, sob um ponto de vista alegórico, a humanidade que, após o pecado original, desceu do Céu em direção ao inferno. Os “assaltantes” seriam os demônios que “arrancaram tudo” e “espancaram” o homem decaído desde Adão. Largaram-no “quase morto”, pois o deixaram fisicamente vivo, mas espiritualmente sem vida. O “sacerdote” e o “levita”, que viram o homem ferido mas se omitiram para “seguir adiante por um outro lado”, representariam os sacrifícios da Lei de Moisés, que se mostraram incapazes de nos salvar. Com efeito, a salvação veio somente por meio do Sacrifício de Cristo na Cruz. 

O Samaritano, por sua vez, seria Jesus! Ele sim “chegou perto, viu e sentiu compaixão” da humanidade ferida pelo pecado! Sendo o Verbo eterno de Deus, fez-se homem como nós, curou nossas “chagas” com o “óleo” de seus Sacramentos e com o “vinho” da Eucaristia. Retirou-nos do chão sujo e nos colocou “sobre o seu próprio animal”; isto é, elevou-nos por meio do Batismo para que nos tornássemos participantes da natureza divina. Em seguida, encaminhou o homem salvo porém ainda ferido a “uma pensão, onde cuidou dele”. Esta pensão seria, alegoricamente, a Igreja. 

O “dono da pensão” seriam os cristãos. Ao prometer “quando eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais”, o Senhor estaria reiterando que, na sua segunda vinda no Juízo Universal, retribuirá a cada um pelo bem que tiver feito pelo próximo. As duas moedas que lhes deixou representam, sob essa perspectiva, o duplo Mandamento do amor a Deus e ao próximo, a moeda que temos neste mundo para adquirir um tesouro no Céu.  

Essa leitura nos ajuda a olhar o Evangelho com confiança. Lendo a mensagem “faz isso e viverás” (10,28) e “vai e faz a mesma coisa” (10,37), poderíamos sentir-nos sem forças. Para agradar a Deus, é necessário praticar o bem; no entanto, isso somente é possível porque o Senhor mesmo já fez um bem muito maior por nós. Perto de tudo o que Ele fez e faz continuamente por seus filhos, as exigências do amor ao próximo são pequenas e leves, um “jugo” verdadeiramente suave (cf. Mt 11,30). Ainda mais se consideramos que, por meio de suas graças atuais, “é Deus quem realiza em nós tanto querer como fazer” (cf. Fl 2,13) o bem. Que o Senhor nos ensine a “fazer a mesma coisa”, amando com obras e de verdade! 

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