Confesso que, com muita preocupação, mas nem tanta surpresa, tenho tomado conhecimento do quanto pais, professores e adultos em geral (entre os quais me incluo), estão despreparados para lidar com todas as novidades que cotidianamente são implementadas no mundo virtual, ao qual crianças e adolescentes acessam com certa liberdade.
Jogos que parecem inofensivos, criativos e até mesmo bem infantis, proporcionam experiências que promovem o acesso prematuro de crianças a conteú-dos sexuais e violentos, com bastante naturalidade. O Roblox, por exemplo, oferece ferramentas e oportunidade para que os usuários criem seus próprios jogos e os disponibilizem na plataforma; desse modo, os mais diversos conteúdos se colocam à disposição. Pesquisas mostram que 39% dos usuários da plataforma têm menos de 13 anos, ou seja, pessoas ainda sem critérios claros tanto para criar conteúdos de qualidade e apropriados quanto para elegê-los na hora de jogar.
Não são poucas as histórias de moedas do Roblox que são trocadas com crianças e adolescentes por trabalho de criação dentro da plataforma ou mesmo por nudes. A professora Telma Pileggi Vinha, da Faculdade de Educação da Unicamp, já alertou em outubro, em uma entrevista à Folha de S. Paulo, que no âmbito do Roblox alguns personagens infantis estimulam comportamentos sexuais em troca de moedas virtuais. Acontece que estamos falando sobre crianças e adolescentes, ou seja, pessoas em formação. Pessoas que estão aprendendo sobre o bem e o mal, sobre o moralmente correto e incorreto e, no entanto, estamos permitindo que participem com naturalidade de um mundo no qual esses valores estão completamente subvertidos e confusos. Estamos permitindo que a imaginação deles seja completamente corrompida. Isso certamente trará resultados desastrosos na formação dessas crianças – confusões sobre o sentido das relações humanas, prejuízos no desenvolvimento emocional, social e até mesmo cognitivo.
Com a Inteligência Artificial acontece um pouco pior: são inúmeras as ferramentas e possibilidades que ela oferece e, mesmo sem que os adultos estejam dominando esses recursos, estão permitindo o acesso desses seres em formação a toda essa realidade.
“Mas, Simone, este será o mundo deles, não há mais como voltar atrás!” Sim, isso é pura verdade. No entanto, se os instrumentos destes tempos são mais complexos, precisamos preparar melhor as crianças para utilizá-los e não simplesmente acreditar que, por terem nascido em uma era digital, estão aptas ao uso.
Antes mesmo da popularização do uso da IA, em 2023, um aplicativo de Inteligência Artificial foi usado por um grupo de adolescentes para remover a roupa de dezenas de colegas e simular a nudez deles, ou seja, eles estão vendo como natural algo que aponta contra a dignidade dos colegas e os comprometem seriamente.
Obviamente os órgãos competentes precisam legislar e determinar sobre o uso desses instrumentos por menores; no entanto, são os pais os maiores responsáveis, não podemos perder isso de vista. De nada adianta a lei externa se dentro da família não há o menor respeito à autoridade dos pais, ou pior, não há sequer o conhecimento deles sobre os riscos envolvidos.
Atendo pais de adolescentes que estabelecem um tempo diário para que os filhos tenham acesso à IA, e outros ainda que nem controle de tempo impõem, o que dirá de conteúdo. Não se trata de pessoas que querem o mal dos filhos, que não se importam com sua formação, mas certamente estão absolutamente equivocadas sobre como conseguir alcançar esse objetivo.
Portanto, pais, atenção: é preciso se antecipar. Na dúvida, proíba. É melhor errar pelo excesso de zelo do que pela permissividade. Enfrentem a batalha de restringir e conhecer primeiro, para depois poder orientá-los bem. Vale a pena!






