A Maria Aparecida Dias, do Parque Bancário, escreveu-me com a seguinte dúvida: “Por que a Igreja Católica se deixou de usar o véu nas missas?”.
Minha irmã, primeiramente é preciso lembrar para os mais novos o que era este véu. Porque nem as mulheres casadas nem as solteiras usam mais o véu para assistir às celebrações, como você observou bem.
O véu é um pedaço de tecido com que se cobre alguma coisa. Tanto que a palavra velar, vem da palavra véu. Velar significar esconder alguma coisa com um véu. Revelar significa tirar o véu.
A Bíblia nos diz que no templo de Jerusalém havia um grande véu, uma cortina imensa que separava, que velava o lugar mais sagrado do templo, que era o Santo dos Santos. O que a Palavra de Deus queria e quer nos dizer é que aquilo que é sagrado deve ser resguardado dos olhares humanos. Então, já sabemos o que é o véu e para que serve na vida comum e para que servia nos tempos da Bíblia.
Agora vamos falar do uso do véu na Igreja Católica. Quando uma religiosa se entrega a Deus, se consagra a Deus, na celebração desta consagração, há o momento da entrega do véu. E este véu significa que aquela mulher é toda de Deus, pertence a Deus e a mais ninguém. Esta celebração da entrega do véu foi copiada de uma antiga celebração do casamento, que ainda é lembrada hoje. Há certas celebrações em que a noiva entra na Igreja com um véu no rosto. Quando ela chega ao altar, o noivo levanta o véu do rosto dela. Aquela mulher, no casamento, se consagra para sempre àquele homem. Isso vem cada vez mais deixando de lado. Até porque, no casamento, a mulher não é propriedade do homem, mas homem e mulher se pertencem, não é mesmo? Os dois se consagram um ao outro.
Agora nós vamos à resposta à sua pergunta. Até antes do Concílio Vaticano II, havia, sim, o uso do véu para as mulheres nas celebrações litúrgicas. As casadas usavam o véu preto e as solteiras um véu branco. Este uso significava muita coisa parecida com o que dissemos acima.
Significava que naquele momento a mulher casada e a mulher solteira não eram objetos de atenção dos homens. Estavam ali diante de Deus e naquele momento eram só de Deus. As casadas naquele momento eram só de Deus para serem depois, no lar, só dos maridos e dos filhos. E as solteiras naquele momento, sob o véu branco, eram só de Deus e não deviam se despertar a atenção dos homens casadoiros.
O véu ressaltava também a dignidade da mulher diante de Deus e dos homens. Diante de Deus, ela não era mais objeto do desejo, que ao longo dos séculos a vem escravizando e tornando-a propriedade do homem, como coisa.
E por que há menos uso do véu hoje em dia? Por vários motivos. Indico alguns:
O véu deixou de ser usado por muitas mulheres porque a Igreja caminhou na reflexão sobre a dignidade do homem e da mulher. Eles saíram das mãos de Deus iguais em dignidade.
O véu deixou de ser usado pelas mulheres porque a Igreja não quer que a mulher seja mais considerada como fonte de pecado, como objeto de desejo, como coisa bonita que deve ser velada, escondida para não despertar cobiça. Homem e mulher se pertencem. Deus escreveu no coração deles uma vocação de amor.
O véu deixou de ser usado porque a Igreja entende que homem e mulher são chamados a construir o Reino de Deus e podem vencer o desafio de olhar um para o outro com outros olhares além daquele marcado pelo desejo sexual, pelo desejo de posse.
O véu deixou de ser usado porque em torno da mesa está a família de Deus, homens e mulheres que juntos olham para Deus e olham uns para os outros como irmãos.
Mas e se alguma mulher desejar usar o véu? Pode? Claro que pode! Desde que o véu não signifique isolamento e separação, desde que aquele véu contribua para que ela esteja mais próxima de Deus sem deixar de estar em comunhão com os irmãos.