Vós sois o sal da terra

Depois de dedicar agosto às vocações e setembro à Sagrada Escritura, o costume da Igreja no Brasil nos convida a dedicar o mês de outubro às missões – ao mandato apostólico que Cristo nos deixou de ir pelo mundo pregando o Evangelho a toda criatura (cf. Mc 16,15). Poderíamos imaginar que a Igreja escolheria como santo padroeiro das missões um grande missionário, como um São Francisco Xavier, um São José de Anchieta ou um Beato Inácio de Azevedo – que heroicamente abandonaram as comodidades de uma Europa renascentista para enfrentar perigos de naufrágios, de piratas, de índios canibais ou de onças pintadas. Mas a escolhida foi ninguém menos que… Santa Teresinha do Menino Jesus – uma monja de clausura, que, depois de entrar no Carmelo aos 15 anos, ali permaneceu até o final de sua vida, aos 24! Como, então, entender esta escolha?

A chave para este paradoxo é entendermos que a verdadeira santidade (e a alma de todo apostolado) não consiste em fazer grandes coisas, mas em fazer com grande amor as coisas (grandes ou pequenas) que Deus nos pede. De fato, as coisas que Teresinha fazia não tinham, exteriormente, nada de extraordinário: como capelã, ela cuidava dos objetos litúrgicos; como mestre de noviças, dava formações para as jovens monjas; como carmelita, ajudava nos serviços normais do mosteiro: lavagem de roupas, limpeza da casa… Mas ela fazia tudo isso por amor a Deus, e, portanto, com esmero, com capricho e zelo nos detalhes que ninguém percebia. Resumindo sua espiritualidade, ela dizia que “apanhar um alfinete por amor pode converter uma alma”.

No fundo, Teresinha imitava o exemplo de Jesus, que proclamava o Reino de Deus “pelo testemunho da vida e pela força da palavra” (Lumen gentium, no 35). Embora a pregação fizesse parte da missão de Nosso Senhor, Ele, porém, não ficava o tempo todo fazendo sermões – até mesmo aos seus discípulos mais próximos, que passavam dia e noite com Ele, assuntos como a necessidade da cruz ou sua identidade divina só foram abordados depois de um longo tempo de preparação. Cristo pregava continuamente pela vida: o jeito com que Ele se portava nas situações ordinárias do dia a dia era uma contínua evangelização a quem estava à sua volta.

E, neste ponto, enxergamos como os leigos têm, na Igreja, um papel único, em que nenhum religioso, padre ou bispo consegue substituí-los: o de ser presença de Cristo “naqueles locais e circunstâncias em que só por meio deles ela pode ser o sal da terra” (LG 34) – ou seja, nas oficinas e escritórios, nos comércios e lavouras, na sala de aula e na diretoria da empresa… Quando um padre fala de Cristo e vive sua fé, uma pessoa de fora da Igreja pode simplesmente considerar que o que o padre prega, “é coisa de padre”. Mas quando um trabalhador comum vive com espírito cristão “todos os seus trabalhos, orações e empreendimentos apostólicos, a vida conjugal e familiar, o trabalho de cada dia, o descanso do espírito e do corpo (…) e as próprias incomodidades da vida”, ele pratica um “modo de evangelizar com uma particular eficácia por se realizar nas condições ordinárias da vida no mundo” (LG 34).

Queridos leigos, pais e mães de família, profissionais celibatários, vós sois o sal da terra! Façamos, então, o esforço de fazer Cristo reinar em cada pequena ação do nosso dia. Para isso, não é preciso fazer estardalhaço: basta oferecer nossas obras cotidianas a Cristo, fazendo-as com amor. Assim, seremos discípulos missionários; assim, atrairemos o mundo a Cristo e incendiaremos todos os corações com a chama do amor divino.

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